13 de dezembro de 2010

Karl Gietl


Karl Gietl é um pintor nascido em Worcester há 40 anos, que vive e trabalha actualmente em Joanesburgo, África do Sul.
Autor de uma obra extensa, o seu trabalho minucioso a descrever as vivências quotidianas com pinceladas de traça única e indelével é admirado por várias pessoas por ser essencialmente cru enquanto morno, agressivo enquanto suave, ofensivo enquanto sensível.
Sou um grande apreciador da obra de Karl Gietl, e gostaria de partilhar esse gosto com o leitor.
E de molde a tornar esse processo mais aprazível, a seguir a cada quadro vou deixar três opções sobre qual o verdadeiro título, atribuído pelo autor, a cada uma das obras. As respostas encontrar-se-ão no final. O título verdadeiro foi traduzido por mim.

Vamos então começar.


1 - Gata em telhado de zinco
2 - Prostituta em cama de canas
3 - Rapariga com brinco de argola


1 - Dia das Mentiras
2 - Natal em minha casa
3 - Carnaval em Madrid


1 - Todos mamados com crack
2 - Delírios de cocaína
3 - A Fada Verde


1 - Antes do strip
2 - O jogo de cartas
3 - Depois dos comedores de batatas


1 - After Eight
2 - Jovem a comer um gelado
3 - Jovem a sair do banho


1 - Maria em cima da neve
2 - Maria sai da neve
3 - Não comam a neve amarela


1 - Quem é que anda aí
2 - Sim senhor
3 - Que ricas peidas

A seu tempo, publicarei as respostas correctas. Quem acertar terá uma grade à espera no Saiber.
Não vale ir à net.





11 de dezembro de 2010

O Tempo.



Enquanto que em tempos últimos o nosso ninho estava dividido entre dois extremos metereológicos, eis que nos chega uma abébia cósmica.
Por um lado, chuva.
Botas, casaco impermeável. Guarda-chuva, e a certeza de chegar a casa a ranger com os sapatos, e pingar o chão da sala. De sair à noite, e limitar o tempo que se está na rua ao mínimo indispensável para chegar do ponto A (um aguadeiro) ao ponto B (um prostíbulo). Não se está bem em lado nenhum, e a roupa molhada conserva melhor os cheiros.
No ponto intermédio, entre notícias de emigrantes mortos em estradas alheias devido ao aquaplaning, e de tornados em Tomar, cá na metrópole chega-se (de um momento para o outro) ao outro extremo, que é o frio.
O ranger de dentes quando se chega a casa, meter as mãos debaixo de água fria (segundo diz a cor da torneira) e pensar que está quente.
Cair de cu na calçada, deitar fumo pela boca, tirar as luvas para comprimentar alguém (poucos o fazem), meter as mãos nos bolsos dos casacos polares que custaram trinta euros na C&A.
E hoje, dádiva divina, nada disso. Nem chuva, nem frio. Uma temperatura de chuva, uma secura brilhante. Faz um tempo que adivinha uma queda de um meteorito de dimensões consideráveis.

10 de dezembro de 2010

5 de dezembro de 2010

Cagalhão.



A história reza que, mais cedo ou mais tarde, a conversa vai degenerar em “merda”. E partir de agora vamos falar de merda. Não vou trazer a antiga discussão, que já foi debatida e concluída, de qual é o singular de “fezes”. Não há, e trata-se de uma palavra que é uma aberração na língua portuguesa (não venhais com a história da cidade marroquina).
A outra aberração que me surgiu, e que também tem a ver com merda, começou com a palavra “cagalhão”. Todos nós sabemos o que é um cagalhão, e também o seu oposto (volúmico e semântico), “caganita”.
Ora, o que se passa, é que temos um aumentativo (“cagalhão”), temos um diminutivo (“caganita”), temos o verbo (“cagar”), temos o advérbio (“Estou-me a cagar”), e não temos o substantivo. Não temos a palavra a partir de qual tudo emana. Não temos “cagalho”.
Ou é cagalhão ou é caganita, fora disso é de esguicho, ou é pintar à pistola, ou é “cagar em leque”. Na verdade, “cagalho”, a palavra legítima a partir da qual as outras derivam, não existe.
E a conclusão é esta, à falta de melhor. A merda não tem regras. Aliás, está-se bem a cagar para as regras.


Um cagalhão feito de areia.

25 de novembro de 2010

Os nomes.



Há que ter cuidado quando se dá um nome a um filho ou filha por nascer. É um acto de enorme responsabilidade, porque é das poucas coisas que o/a vai acompanhar até ao fim da vida. Pode decidir o seu futuro profissional (deve haver um estudo que o prova), e pode mesmo decidir a personalidade dessa pessoa.
Entre dois homens, um chamado Joaquim (o Quim) e outro chamado Gonçalo (Dr. Gonçalo), qual é o mais atreito a trabalhar nas obras?
Entre duas mulheres, uma chamada Cátia, Natacha, Celina ou Sandra, e outra chamada Inês, Isabel, Patrícia ou Teresa, qual será a mais badalhoca? Quem destas será mais estatisticamente favorável a engravidar sem saber quem é o pai? Quais serão as maiores fãs do Tony Carreira?
Há excepções, como é óbvio. Uma Mafalda, por exemplo, ou Filipa, poderá tanto ser uma ordinária dos sete costados, gastando as suspensões do AX do pai e os colchões podres da serra do Crasto; como uma betinha niquenta da linha de Cascais. O mais das vezes, as duas coisas em simultâneo. Grande parte dos homossexuais têm também nomes que são fáceis de fazer trocadilhos, como Gabriel e Guimarães.
Por isso, pais que estão prestes a sê-lo, tende cuidado com o nome que dão aos filhos.

No Futebol


Onde é que eu quero chegar com isto? Gente há que, com uma prespicácia rara, dá os nomes aos filhos predestinando-os àquilo que eles serão. Não me acredito que Dona Dolores, pegando no seu filho bebé vestido de branco à beira da pia baptismal, acreditasse que o seu filho Cristiano Ronaldo iria ser um prodígio da bolsa ou um candidato ao Nobel da Química. Cristiano Ronaldo tinha o seu fabuloso destino marcado desde o momento em que teve nome. Na pior da hipóteses, seria um mediano trabalhador das obras com um part-time no Repesenses, cuja carreira passou ao lado.


Cristiano Ronaldo é, sem dúvida, nome de jogador da bola. Tem Cristiano no nome, como um Cristo, o Messias do futebol. E Ronaldo, atavismo sagrado do esférico, nome de gigantes da bola. Ronaldo, Ronaldinho, mesmo Ronaldão é bom nome de central ou guarda redes.

E passamos então para os grandes nomes do futebol. Com ênfase nos “nomes”. Aqueles jogadores que tiveram de o ser por imposição onomástica.
Existem nomes curiosos, alguns cómicos, alguns exagerados. Como o grande Arsénio Sebastião Cabúngula, mais conhecido como Love, avançado em Angola no Primeiro de Agosto. Doctor Khumalo, Sul Africano, Cerezo Fung a Wing, do Suriname, o congolês Christ Bongo, o australiano Danny Invincible, e os brasileiros Mozart e Creedence Clearwater Couto são nomes que primam pela originalidade.
Mas e os nomes que respiram futebol?
Para mim, os jogadores que têm dos melhores nomes de futebolistas são por exemplo os búlgaros. Temos os monstros sagrados que são Krassimir Balakov e Dimitar Berbatov. Temos Emil Kostadinov e Ivaylo Yordanov. E temos o grande Hristo Stoichkov. Tudo nomes que inspiram medo no adversário, o jogo frio e calculista da guerra fria, a eficácia robótica na marcação de livres e a violência dos embates corpo a corpo.

Há outros jogadores com grandes nomes de jogadores. Paulinho Cascavel. Michael Ballack. Gianluigi Buffon, sobrinho de Lorenzo Buffon (duvido que fosse o guarda-redes que foi se se chamasse Pollo). Diego Armando Maradona.
Mas em primeiro lugar, quem tem os melhores nomes de jogadores da bola é a Holanda. Parece que os nomes foram inventados de propósito para instigar o medo e o respeito dos adversários. Ruud Gullit. Tem Ruud no nome, é um homem rude. E Gullit, que lembra golos. Ronald Koeman tem Ronaldo (mais um) e Koeman, bela onomatopeia para um remate de meio campo. Frank Rijkaard tem muita pinta. Rudy Voller.
E o príncipe de todos os jogadores, aquele sim com nome de manga japonesa, que ou abortaria à nascença ou seria uma lenda do Futebol.
Marco Van Basten.
Impossível fazer melhor, se alguém se chamasse Chuta Von Golos já cheirava a forçado.

No Rali

No rali passa-se exactamente a mesma coisa, nomes há que estão predestinados a rasgar o alcatrão. Nomes que inspiram loucura finamente controlada, o cheiro a gasolina mal queimada, a trepidação nas entranhas quando os carros passam a cuspir gravilha.
Entre os grandes nomes contam-se a Bulgária do cascalho, que é a Finlândia. Talentosos pilotos de rali parece ser a principal exportação desse pequeno país nórdico, e não duvido que a maior parte do mérito é onomástico. Tommi Makinen parece demasiado óbvio, e dizer que o Makinen é uma máquina soa a aliteração. Simo Lampinen, Henri Toivonen e o grande Ari Vatanen são outras lendas das estradas de imortalidade assegurada em grande parte devido ao nome.
O alemão Walther Rohl, e o sueco Bjorn Waldegard são outros dois bons nomes (o primeiro poderia ser também uma marca de relógios de topo, e o segundo uma marca de carburadores ou o melhor trompetista de sempre)
François Delecour e o malogrado Richard Burns entram na lista, o primeiro por inspirar suplesse e o segundo por denotar borracha queimada.

Continuano, pilotos de rali, destas vez italianos. Itália é a Holanda do desporto motorizado (Valentino Rossi foi desenhado para andar de mota). Mas nos ralis temos o grande Sandro Munari, lenda do Lancia Stratos. O enorme Gigi Galli, que apesar de ter menos nome de piloto do que de palhaço, é nome de personagem fora do baralho. Aquele que, ao assomar-se na curva, todos esboçam um sorriso “Aí vem o Gigi Galli, deixa cá ver como vai ser desta vez”. E depois presenteia-nos com pérolas destas.

E finalmente, o Marco van Basten dos ralis. Italiano de gema também, duas vezes campeão do mundo, 17 vitórias em ralis incluindo 3 em Portugal. O porta estandarte da Lancia, o grande Massimo “Miki” Biasion.

Tem Massimo no nome, como um centurião romano, e tem Biasion, que parece um aparelho secreto dos carros de rali. Tipo sonda lambda. E alcunha “miki”, falsamente carinhosa, pois Massimo Biasion, por se chamar assim, irá reduzir a pó que se atravessar à sua frente.

E aqui vai o meu corolário. Ao contrário do futebol, nós portugueses não temos nenhum nome sonante nos ralis. Não temos nenhum Jorge Gazão, nenhum Pedro Cascalho, nenhum António Dafundo. Temos sim (vide Google), um José Carpinteiro Albino e um Francisco Romãozinho. Isto são nomes de jogadores de sueca.


18 de novembro de 2010

O Brinco de Pérola.

Dirigi-me depois à gaveta onde se encontrava o outro brinco. Comparei-os. O que tinha acabado de limpar tinha a pérola com uma côr mais enegrecida, mas só olhando com muita atenção. Rezava para que a minha mulher não desse conta. Só me falta agora arranjar agora o seguimento da partida que lhe fiz pensar que preguei dois dias antes, terá que ser algo elaborado. Dentro de um bolo, talvez?

Coloquei o brinco em água quente com umas gotas de lixívia, enquanto lavei o material que usei e o arrumei no sítio. Dediquei-me depois a lavar o brinco, que, como verifiquei, ainda tinha matéria fecal nos arabescos de prata, com uma escova de dentes e líquido de limpeza de pratas. Esfreguei, esfreguei e esfreguei até julgar que o brinco estava limpo.

A minha mulher voltou com o semblante carregado. De dúvida, de nojo, de incredulidade e curiosidade. Mais nojo, talvez. Mas ninguém disse nada. No dia seguinte de manhã, fiz a mesma rotina. Desta vez o balde esteve mais tempo na varanda, e o cheiro era pior, calculei que seriam os muitos camarões que comi no casamento. Demorou mais tempo a filtrar pelo coador de metal, pois o líquido era mais viscoso e necessitou de alguns acrescentos de água quente. Mas finalmente, lá estava o brinco! O pior já passou.

E pus mãos à obra. Meti o coador de plástico no fundo da sanita, e aliviei-me. Com cuidado para não deitar nada fora. Limpei-me, retirei o coador com as fezes, e virei-as para o balde que já tinha água quente. Coloquei o balde na varanda, e fui mexendo com a colher de pau. Passadas umas três horas, verifiquei que a mistura estava líquida e homogénea, e filtrei tudo com o coador de metal para a sanita. Nada. Ainda estava dentro de mim.

No caminho de casa, pensei nos passos a seguir. Sentia-me cheio, mas só iria cagar no dia seguinte de manhã. Quando a minha mulher saíu, tinha a lista mental do que necessitava. Um coador de plástico para lavar as saladas. Um coador de metal para fritar as batatas. Um balde, uma colher de pau, umas luvas de lavar a louça.

Vi a cara de desconcerto e pânico da minha mulher. Que fizeste? Explicou-me que aqueles brincos eram da mãe e já foram da avó. São valiosíssimos. Mantive a compostura possível, e tentei convencer a minha mulher que não havia problema, era só uma piada elaborada. Um golpe de mágica. Dentro de um dia, no máximo dois, teria o brinco de volta. E foi, julgo eu, o elevado grau de incredulidade de que o brinco da avó iria passar pelo meu sistema digestivo, que a levou a pensar que acreditava.

Numa festa de casamento, com a noite adiantada, tomei uma atitude romântica. Mordisquei a orelha da minha mulher (pára, que me arrepias!), e na brincadeira, com os dentes, arranquei-lhe o brinco da orelha. Na brincadeira outra vez, bebi um copo de champanhe e engoli-o. E agora?

4 de novembro de 2010

30 de outubro de 2010

Dia das Bruxas



Uma vez por ano, podemo-nos dar a este luxo!
Vai mudar a hora. Às duas da manhã de Domingo, o relógio vai andar para trás uma hora. E nessa hora podemos fazer tudo o que quisermos, na máxima impunidade.
Vamos dizer às pessoas que amamos o que sentimos por elas, e que apesar de tudo não são perfeitas. Vamos dizer às pessoas que odiamos que não valem nada, mas que temos alguma inveja.
Vamos dançar polka em cima de campas do cemitério, fazer amor menos que consensual com bruxas pubescentes atrás do campanário, à sombra da lua prateada! Vamos rir, pegar fogo a notas de 50, atirar ovos aos carros da polícia, beber até vomitar no balcão, caminhar nus nas pedras da calçada, beijar desconhecidos na boca, ulular como índios, pintar cães com spray verde, subir às árvores e uivar à lua, pontapear pombos, tudo!

Porque tudo isso vai ser como se nunca acontecesse, e aquela hora entre a uma da manhã e as duas será enviada lá longe, para algum buraco negro, onde não há arquivos nem câmaras nem provas. E tudo o que acontecer permanecerá apenas na nossa memória.

27 de outubro de 2010

Ovelhas com Metanfetaminas.

Natal.

Apercebestes-vos concerteza de que começa a aumentar a frequência dos reclames de televisão das prendas de Natal. Ainda estamos em Outubro.
Quais os reclames que passam? Isto porque é assim que funcionam.
Primeiro, e por esta ordem, vêm os reclames de chocolates, de perfumes e de relógios. Porque se tratam das prendas genéricas; aquelas em que apanham o pai de família antes daquela altura em que ele começa a pensar na prenda que tem de dar à sogra. E à mãe. E à irmã, tia, vizinha, e tal. “Um chocolate/perfume/relógio fica sempre bem à vizinha/mãe/mulher.” Está sensível a presa; está a jeito, está à procura. Está na altura.

E todos nós sabemos o que é que nos espera. Reclames dos carros já começaram, e vão aumentar (“A milha filha por acaso precisa de um carro, entrou agora na Universidade...”). Depois os anúncios dos LCD’s, dos computadores e dos jogos de PlayStation (“o meu filho adolescente anda-me a chatear com o computador que está velho”). Os reclames das jóias, com colares e pulseiras que se transformam em várias como se fosse mais que uma prenda. Ou seja, quanto mais perto do Natal, mais à rasca está o consumidor. (“Que raio hei-de dar à minha mulher?!?”).

E depois, chega a minha parte preferida.
15 dias antes do Natal começam os reclames das coisas que os pais vão comprar no dia de Consoada. Aquela prenda para aquelas pessoas de que às vezes os consumidores não se lembram, mas por causa delas que o Natal faz sentido. 15 dias antes do Natal bombardeiam os reclames dos brinquedos. Do robot que se transforma num camião, da boneca que fala e dá peidos, do carro telecomandado com lagartas que manda mísseis de plástico. E dos computadores que fazem os sons dos animais, e dos nintendos, e dos ovos Kinder (que já apareceram pela simples razão que, além da surpresa, é um chocolate), e do carro do Ken, da Barbie preta, dos pokémons, dos estojos de maquilhagem e dos Legos.
E o bombardeio é engraçado, porque tem muita luz e cor, muito barulho. Alguns incluem a expressão “diversão para toda a família” e mostram uma família divertida a experimentar posições sexuais. E inventam uma história a explicar porque é que o GI Joe tem de ir ao castelo do Skeleton mandar mísseis. E os micro-machines e respectivas lavagens automáticas.
Demasiado fácil. O rebento vira-se para os pais e começam aos berros Ó pai, Ó pai, eu quero o tanque do Lord Extreme/Anita Vaidosa/O jogo do Hipopótamo/Pistola Laser.
As crianças têm, como se sabe, uma memória imediata de 2 segundos. Vamos impactá-las.
E, durante algum tempo, andamos esquecidos do resto. É preciso o peru, o Lord Extreme, a pulseira Pandora para a mulher, as luzes de Natal que estão no sótão.
A mim parece-me que em Portugal a silly season dura o ano todo.

22 de outubro de 2010

21 de outubro de 2010

Poema em Grulfe

Inventei uma língua nova, e escrevi um poema nessa língua.
É sobre a inconstância da vida, e de quão desprovida de sentido se não soubermos aproveitar cada momento. É assim:

Brilvam os galfos na mojela
Tojando com valgor e nol pastal
Grumindo nola jorte pum cutela
Ninhundo sem tronte nem rufal.

Algendo sis printa com Gol:
"Bradolim setém gradol, carolim fus seitinho?"
Som que Gol manideu golado
Mosera nimpa, moledeu de mansinho.

Ainda não está terminado, mas dá para ter uma ideia.

6 de outubro de 2010

A importância das vírgulas.

Tenho demasiado tempo livre nas mãos. Logo, decidi fazer uma compilação de expressões que são ofensivas se tiverem uma vírgula.

Ernesto: Qual é a tua bebida favorita?
Paulo: Eu gosto de chá, preto. E tu?
Ernesto: Eu cá gosto de champanhe, bruto.
Paulo: Qual é o comer?
Ernesto: Hoje é pato com arroz, selvagem.
Paulo: E pão, saloio?
Ernesto: Também. Já lavaste as mãos?
Paulo: Sim. Com sabão, macaco.
Ernesto: Boa. Gosto deste edifício.
Paulo: É feito de tijolo, burro.
Ernesto: Fixe. Bom apetite, filho da puta.
Paulo: Igualmente, cabrão.

20 de setembro de 2010

Cadeiras de bebé nos elevadores do Palácio do Gelo.

Sinceramente não me lembro da última vez que andei nos elevadores do Palácio do Gelo sem estar acompanhado por um carrinho de bebés. Pequenos sultões cheios de soberba, cobertos por um lenço para os proteger do frio ou das moscas ou dos paparazzi.
Muito raro mesmo. Muito raro não sair do elevador com toques nas canelas ou dedos entalados porque os senhores paizinhos preferem levar os rebentos nas cadeirinhas de bebé. Por vezes uns latagões de 20 quilos com mais que idade para caminhar à vontade e esfolar os joelhos, mas não! Vão na cadeirinha subdimensionada empurrada pelos paizinhos que não querem que o menino de aleije ou coisa do género. Palhaços! Não se admirem que depois vos digam que os muídos são obesos. Gordura é giro até aos 9 meses de idade, depois torna-se patético. Nada mais patético que um garoto obeso. Depois vai para a escola e é o “badocha” ou o “bola”, e na melhor das hipóteses é o gajo que vai sempre à baliza. Mas os pais não pensam nisso! Levam as crianças ao Palácio do Gelo num carrinho de bebé para o puto não correr, como se o quisessem engordar de propósito para fazer foie gras.
Aconselho-vos a fazer o seguinte sempre que virem um carrinho de bebé num elevador do Palácio do Gelo: deitem-lhe um copo cheio de Coca-Cola em cima sem ninguém ver. É o que eu faço. É fácil porque está tudo à pinha e ninguém dá conta. Façam isso imediatamente antes de sair. E quando o garoto começar aos berros, virem-se casualmente e digam “deve estar mijado”. Hão-de aprender.

29 de agosto de 2010

Citroen.

Aliando incompetência a analfabetismo desde 1919.

17 de agosto de 2010

Comer Terra.

Ontem lembrei-me, quando estava a nadar no mar, da quantidade de lixo que existe em todo o mundo. Ou aliás, só naquela praia e naquele mar onde eu estava. A massa de água é suficientemente grande para diluir o lixo, por mais tóxico ou nojento, para níveis residuais. Mas o facto estava lá: um vez vi um penso higiénico a boiar no mar. Mulheres vão com o período para o mar, e de certeza que de vez em quando se escapa uma gotinha ou outra. As pessoas mijam no mar, isso é de certeza. Eu próprio o faço, e considero-me uma pessoa mais limpa que a média. E na praia há beatas de cigarro, tampas de taparuéres, sacos de plástico, caroços de cerejas, cascas de melão, meloas, melancias e outros cucurbitáceos. E isto só na praia, se for preciso na praia em que estou. Os corpos das pessoas deixam rastos oleosos no mar por causa dos cremes de protecção. Todos cospem para a água, e espremem borbulhas enquanto lá estão. Nalguns filmes, há pessoas que deitam as cinzas dos entes queridos para o mar, há derrames de petróleo, os esgotos vão todos lá ter.

O que leva à pergunta óbvia: se houvesse um extraterrestre tão grande que, para ele, o nosso planeta fosse do tamanho de pêssego, ou de uma romã, e comesse o planeta, a que é que este saberia?
Temos de levar em linha de conta as coisas que sabem bem e que sabem mal, e fazer uma média estastística para saber se a Terra saberia bem ou não.
Ao comer o planeta, temos de comer também os caixotes do lixo cheias de fraldas sujas, cabeças de pescada, sacos do Lidl com esparguete à Bolonhesa com semanas de existência. As casas de banho da feira de São Mateus, que por dentro cheira tanto a mijo que o amoníaco fere os olhos. Temos de comer as pastilhas elásticas coladas ao alcatrão, os acampamentos de ciganos, os vómitos dos estudantes, aqueles cagalhões com a casca ressequida que se encontram na mata, cheios de mosquitos, ao lado dos frigoríficos abandonados e colchões manchados que as putas usam no Verão. Temos de comer pensos higiénicos usados, bidões de gasolina, sapos e plantas venenosas, unhas cortadas, os fetos conservados em formol dentro de frascos nas universidades, pneus, notas de 5, chulé, todos os cadáveres que já houve, cacos do nariz, cera dos ouvidos, cotão do umbigo, animais mortos, vegetais podres.
Isto é a parte que deve saber mal.
Depois há a parte que deve saber bem: ao comer a Terra, estamos a comer todos os leitões assados que há no mundo. Todas as frutas tropicais, cerejas, uvas, pão quentinho acabado de fazer, colegiais acabadas de sair do banho, canja de galinha, frangos assados, canapés de caviar, folhados de salsicha, aqueles manjares sumptuosos que estarão a ter lugar algures nas Arábias, com porcos tostados com laranjas na boca. Todos os bebés gorduchos, todo o vinho que há em todos os tonéis, e cerveja também. Todo o café torrado, todo o chocolate, todas as gomas da Hussel, as farturas quentinhas, gelados, algodão doce, bombocas e mousses.

A que saberá, então, a Terra se a comermos?
Eu tenho a minha opinião. Eu acho que a Terra sabe a ferro. Isto porque o ferro é o elemento mais abundante. Eu acho que, se esse extra-terrestre comer o planeta, e tiver o sentido do paladar semelhante ao nosso, primeiro tem de o comer com cuidado senão queima-se, porque a parte de dentro da Terra é feita de ferro fundido. Saberá então a ferro a Terra, talvez com uma pitada de sal por causa dos oceanos. Terá a crosta estaladiça e o interior viscoso, e terá de ser preciso sorver pelo canto da boca, como um pastel de Vouzela, para não pingar a galáxia ou a roupa.
Depois cuspirá o núcleo de ferro sólido para bem longe, como um caroço de uma nêspera, para lá da cintura de asteróides, e depois, se sobrar um espacinho, talvez partir para uma sobremesa, um Mercúrio ou um Marte.

9 de agosto de 2010

Corrida.


A tensão na recta da meta é alta. A senhora da pole position, no entanto, mostra-se calma e ponderada, fruto de anos de experiência. Em segundo está um idoso alcoólico, numa posição de concentração absoluta. Em terceiro, uma senhora idosa a ouvir instrucções dos comissários de pista. Em quarto, uma jovem rapariga que desmaiou em casa, com pouca experiência mas muita vontade de ganhar. Reparai que é a única com jantes de liga leve em todo o paddock. Na cauda do pelotão, alguém com poucas possibilidades de ganhar, pois nem sequer tem pulseira, logo nem se qualificou. É provável que nem seja um piloto, talvez o familiar de alguém que quis descansar.
Aceitam-se apostas: todos têm pulseiras amarelas, por isso vai ser competitivo.
Fique para ver.

6 de agosto de 2010

O Verão.



Que é feito do Verão?
Desapareceu, assim de repente?
Meço-me pelas árvores em frente a minha casa.
Têm vindo umas rabanadas de vento, levaram-lhe grande parte das folhas.
Estamos em Agosto, porra!
Demora assim tão pouco tempo?
Ainda ontem estava de sobretudo. Chegava a casa com as mãos azuis, punha-as debaixo de água fria (segundo dizia a torneira) para as aquecer.
Acordava de noite, com chuva e frio, com medo de enfrentar o dia.
E agora acordo a afastar os pés do sol, pois o meu quarto dá para Este.
E é um calor do caralho.
E ando de calções, e sempre suado, e ando a beber 7up com gelo.

E no entanto, parece que está a acabar o Verão.
Uma ventania, que parece que está a ajudar os incendiários deste país,
Mas também está a mandar abaixo as folhas dos plánatos em frente a minha casa.
Agosto? Supostamente estamos em Agosto. E supostamente as noites estão a ficar mais frias; ainda ontem tive de pôr um cobertor.
Andei a dormir só com um lençol durante quinze dias. Agora, tenho de pôr um cobertor porque faz frio e sabe bem.

O mundo está louco, digo-vos eu.



Devon Miles diz, e com toda a razão:


Vai dormir.

5 de agosto de 2010

Megadef.



Não gosto de mongolóides (mongofobia?), desde os meus 12 anos. Andava no ciclo, e andava lá também um miúdo mongolóide. Estava eu na minha, no corredor, quando o Pedro, o mongolóide, vem a correr escadas abaixo contra mim e dá-me uma chapada com toda a força. Ninguém o provocou, deu-lhe para isso. Era mongolóide. Depois veio a professora a correr atrás dele, ó Pedro, ó Pedro!, nem olhou para mim.
Dizem que os mongolóides têm muita força, mas isso é falso. Eles não têm é interruptor para medir a força: ou usam a força toda ou não usam nenhuma. Uma festa na cabeça é um cachação, um abraço deles é como o de uma anaconda.
Não gosto de mongolóides e não há nada a fazer. Paga o justo pelo def.
Este ficou desfocado em virtude do seu cromossoma a mais.

28 de julho de 2010

Fernando.

Chamemos-lhe Fernando Oliveira.
Fernando Oliveira é um habitante do interior do país, que se sentia gordo e diabético. Fernando Oliveira, homem tenaz e preserverante, propôs-se então a emagrecer, de modo a melhorar a sua saúde e aparência, não sem antes tirar uma fotografia do “antes” e do “depois”, para afixar na loja de produtos naturais que o patrocinava.



Como se pode ver na figura, a doença estagnou quando Fernando passou a descer pelos 100 Kg. Porém, como o número que ele avançou foi de 30 Kg, ainda continua na sua demanda para perder esses kilos a mais.
Ora, eu acho que há várias coisas que correram mal nesse processo. Não falo do Photoshop de 30 segundos para esticar a imagem do “depois”: falo sim da atitude do “antes” e do “depois”. Que se passou, Fernando? És feliz agora, que és mais magro?



“Antes” comias chanfana ao pequeno almoço, e as mulheres que querias. Usavas uma T-shirt da Quicksilver, tinhas atitude, eras chefe de um negócio florescente de desportos radicais onde levavas jovens casais enjoadinhos da metrópole por fulgurantes descidas de rápidos do rio Paiva, fazias grandes patuscadas com os teus amigos onde começavam a almoçar ao meio dia e acabavam de jantar à meia noite, sem intervalo de jejum pelo meio. E ainda te atiravas ao tanque de lavar roupa do vizinho, e não te queixavas do ligeiro refluxo.
Tinhas peso a mais, e carisma também. Vendias saúde e boa disposição.
Até que decidiste emagrecer por causa da diabetes.



Que se passou, Fernando?! Porquê? Valeu a pena? Perdeste 22 Kg e o equivalente em brilho. Já não és uma mente jovem radical, uma carta fora do baralho, uma personagem, o primeiro a cair da varanda nos casamentos, aquele por quem as mulheres suspiravam e os homens atiravam as mãos à cabeça. Para onde foi a joie de vivre? Foi-se embora, como a glicémia? Agora, vestes de camisa por dentro das calças, que já te servem, passaste a usar óculos, e trabalhas no back office dos CTT a aviar encomendas. Comes sempre uma peça de fruta pela manhã, um yogurte pela tarde. Os açucares estão regularizados, porque tu os verificas 5 vezes por dia. Vendeste a mota e penduraste o garrafão. Valeu a pena?



























26 de julho de 2010

19 de julho de 2010

Carta Aberta

Exmos. Srs. da Car Lease

Na passada semana a minha viatura, uma Citroen C4 Picasso, deu o peido mestre. Deixou de pegar, por um problema qualquer de electrónica. Ora, o serviço por vós prestado inclui reboque e viatura de substituição. Não me queixo da rapidez do vosso serviço, pois apenas meia hora depois de ter ficado apeado já tinha a viatura em cima do reboque e um táxi para me levar à viatura de substitução.
O que se passa foi que, apesar dos vossos serviços alardearem que a viatura de substituição será da mesma gama que a viatura corrente, aparentemente desta vez não havia viaturas da mesma gama que pudessem substituir a monovolume com que eu me deslocava.



Foi-me dito , por uma das vossas colaboradoras, que se mostrou muito simpática (disso não tenho razão de queixa), que não havia viaturas de 7 lugares, e se eu não me importava de ficar com uma viatura comercial, de apenas dois lugares. “Que se lixe”, pensei eu, pois o conserto da minha viatura não deveria levar tanto tempo. Ora, mas a viatura “comercial” de substituição que me foi atribuída ficou muito aquém das minhas expectativas. Mesmo sendo uma viatura de uso temporário, e não sendo eu esquisito, julgo que ficou uns bons pontos abaixo dos vossos pergaminhos de qualidade.



Primeiro, o nome. Julgo que se trata de uma marca chinesa, “Zonda”, pelos vistos, querendo passar por uma cópia barata dos “Honda”, marca nipónica de carros de qualidade. O primeiro dia que passei com o “Zonda” foi de bradar aos céus: um barulho perfeitamente insuportável, a comodidade era verdadeiramente nula, não podendo eu passar por cima de um selo sem adivinhar o seu valor facial. A viatura não tem mala que se aproveite, nem um necessáire lá cabe. De modo que tive de fazer várias viagens no decurso do meu dia de trabalho. A visibilidade traseira é pior que nula (dei um par de toques na traseira, que por sinal tem 4 ponteiras de escape que parecem bidões), galgar passeios é impossível (deixei o spoiler em Anadia, podem ir lá depois buscá-lo), o interior é incómodo de tão despido, vendo-se as cablagens e uns materiais a imitar a fibra de carbono. Dos consumos nem falar, se fosse eu a pagar o combustível estaria ainda mais indignado. Gastei dois depósitos a ir ao Pingo Doce, que fica a dois quarteirões de minha casa.
Em suma, um horror. Aconselho-vos vivamente a rever a vossa política de viaturas de substituição, uma vez que este “Zonda” é mais indicado para aqueles miúdos de 20 anos que gostam de acelerar nas rotundas para impressionar as miúdas, não para um jovem trabalhador com uma hérnia discal.

Cumprimentos

9 de julho de 2010

3 de julho de 2010



Octávio estava sentado ao computador.
Compenetrado e concentrado, mesmo com os headphones que lhe cobriam os lados da cabeça conseguia sentir a intimidante presença da sua chefe atrás dele.
Quarentona segura de si própria, divorciada havia anos porque “não conseguia conciliar o trabalho com as suas obrigações de mulher”, baixa mas elegante, de seios fartos e opulentos que não se dava ao trabalho de esconder, olhos castanhos e dentes manchados por anos de café e tabaco, sorria com aprovação para o trabalho de Octávio. E este sabia-o. Era bom naquilo que fazia.
Quando acabou, recostou-se na cadeira e passou vigorosamente as mãos pela cara e suspirou, porque era assim que achava que as pessoas faziam quando terminavam algo difícil e exigente.
— Olá chefe. Não sabia que estava aí — mentiu Octávio.
— Está a correr bem, hoje — disse Patrícia, calmamente.
— Sim, mais ou menos — disse Octávio, numa nota mais alta e com um esgar de desprezo.
Octávio cedo aprendeu que, no mundo empresarial, de forma a menosprezar mais eficazmente os fracassos, havia que menosprezar os sucessos de igual forma. Na verdade, o Kill/Death Ratio do dia foi de 2.41. A sua média mensal era de 1.8, enquanto que a média da equipa era de 1.2.
— Você está muito forte nos mapas do Egipto e do Ship. Isso é bom, dá muitos pontos. Mas mesmo assim acho que precisa de melhorar nalguns aspectos, por isso vim aqui falar consigo.
— Então, chefe? — disse Octávio, rodando lentamente a cadeira na sua direcção.
Octávio tinha respeito por Patrícia. Patrícia foi número um durante dois anos no Counter Strike, foi a fundadora do clã mais bem sucedido a nível europeu do Urban Terror, e foi a pioneira a matar o inimigo final do Wolfenstein sem a rotativa.
— Você foi chamado porque tinha uma boa reputação em alcance. Como apoio necessário cá atrás com fogo pesado enquanto os nossos batedores faziam estragos lá à frente. E lamento dizê-lo, Octávio, você é uma miséria com a AWM.
— Compreendo, chefe — dizia Octávio. Parecia que já tinha o discurso preparado. — Mas digo-lhe já, sniper não compensa. Mesmo no Mónaco a minha SCAR Light é mais eficaz. Mato muito mais gente.
— Eu sei, Octávio. — Patrícia também parecia preparada. Como sempre. — Mas não é só as kills que contam. Você se for bom com a sniper, mata menos gente mas consegue um melhor K/D.
Octávio concordou. Ultimamente, admitia, dava-lhe mais gozo entrar com Uzi ou a MP5 para dentro dos edifícios do Mexico ou do Fortress e triturar quem lá estivesse dentro, do que ficar cá atrás com a AWM, ou mesmo com a nova DSR-1, a dar apoio à malta lá da frente.
— Você vai ter uma formação com o Teixeira. Ele é o melhor de nós com sniper, e ele pode-lhe dar umas boas dicas. Entretanto, quero que você prepare uma formação para dar à nossa equipa sobre granadas. Você consegue grandes resultados com granadas que mais ninguém consegue.
— Tudo bem, chefe.
Octávio encolheu os ombros com modéstia, tal como estava treinado. Mas sabia que era verdade. Já se imaginava a preparar os slides, com o óbvio contentor no Ship, a varanda no Mexico, a passadeira no Train. Às vezes eram aos três de cada vez.
— Preciso do plano até Segunda.
Octávio suspirou esta vez, menos imperceptivelmente. Estava perto do fim de semana, e Octávio já se imaginava a tirar a T-shirt e os calções, descalçar os chinelos, vestir o belo do fatinho e ir vender esquentadores até Domingo à noite.
Mas já não vai ser possível.



Empregado do mês.

29 de junho de 2010

Eu tenho um feeling...

De que, finalmente, temos um valoroso candidato a próximo Nuno Gomes.

A graça, a inocência, o ar andrógino, o talento nato.
Assim nunca mais.

24 de junho de 2010

Ah grande cão!



Havia de haver um destes em cada lar.

20 de junho de 2010

13 de junho de 2010

Funfa.



Algo se passa de errado no universo erótico, se bem que eu não possa precisar bem porquê.
O que é facto, é que hoje em dia cada vez mais se censura a pintelheira das mulheres. Nos filmes porno, nas fotos porno, nas fotos eróticas, na Playboy, em todo o lado. Por alguma razão, pintelheira não.

E não porquê? É inestética? É porca? É nojenta? Parece mal? A pintelheira deixou de ser benvinda e passa a ser olhada com desdém. Se quer fotografar, tem de rapar.

Mas eis que atingimos um novo patamar na censura. Agora, não é só a pintelheira que tem de ir. Agora, pelos vistos, mesmo a rachinha da ratinha também tem de ir embora. E como não se tira uma racha como se rapam os pêlos, terá de se usar o Photoshop.
Sandra B., B de Botelho, apareceu na Playboy sem pintelheira nem racha.

Parece uma Barbie, ou uma boneca insuflável. Qual é a ideia? Tentar mudar o foco óbvio do consumidor médio da Playboy para se apreciar a "fotografia artística"? Tirar a racha com Photoshop torna a foto mais apta a ser apreciada por um leque maior de pessoas? E de crianças?
Assumem-se contornos ridículos nesta situação. Cada vez mais os "modelos", ou as mulheres que todos os homens desejam e gostavam de ver nuas, vêem a sua feminilidade absolutamente castrada e censurada. Não sei se elas o sabem. Ou se sabem, se não se importam ou se gostam assim. Na minha modesta opinião, é ridículo. Abaixo o Photoshop! Tirar uma borbulha ou outra, ou um dente descolorado, ou um olho negro, ainda vá. Agora isto já é logro.

Deixo-vos com esta, L'Origin du Monde, de Gustave Courbet. Era assim que devia ser.
Quase que se sente o cheiro.

6 de junho de 2010

Adeus amigo



Às vezes, parece que olha para mim.
Dou à chave, ouço a faísca
Acelero o motor, acendo o pisca
Fico triste que acabe assim.

Branco pérola, de sangue na guelra
Rasga asfalto com leveza de melra
Alma de gato e coração de leão
Sou o Rei da Estrada com o volante na mão.

Ah, quando cantas p'la rua fora!
E arrancas a chiar no paralelo.
"Olha para aquele selvagem!"
Fizessem comigo uma viagem
Para ver como o mundo é belo.


Vou ter saudades tuas, companheiro.

31 de maio de 2010

Brilhante.

Women! What could you say? Who made 'em? God must have been a fuckin' genius. The hair... they say the hair is everything, you know. Have you ever buried your nose in a mountain of curls... just wanted to go to sleep forever? Or lips... and when they touched, yours were like... that first swallow of wine... after you just crossed the desert. Tits. Hoo-ah! Big ones, little ones, nipples staring right out at ya, like secret searchlights. Mmm. Legs. I don't care if they're Greek columns... or secondhand Steinways. What's between 'em... passport to heaven. I need a drink. Yes, Mr Sims, there's only two syllables in this whole wide world worth hearing: pussy. Hah! Are you listenin' to me, son? I'm givin' ya pearls here.

Al Pacino, Scent of a Woman

30 de maio de 2010

Marcha atrás.

Para mim, fazer marcha atrás é como viajar para o passado: de todos os resultados possíveis, vai dar sempre merda.
Merda porque, segundo rezam as histórias, parece que se alterar alguma coisa no passado (o velho cliché da borboleta), o futuro assume contornos inesperados.
E, na minha senda de marcha à ré, já alterei o pára-brisas do meu Peugeot, a mala da Citroen, um plátano em Anadia, um pára-choques de um Volvo e toda a frente do Renault 19 da Dona Celeste.
Porquê?, perguntais. Poderia responder que para trás mija a burra, que não quero saber, que o que me interessa é o que está à minha frente, que não sou pessoa de olhar para o passado, que se bato nas coisas que estão atrás de mim é porque, de qualquer maneira, essas coisas não deveriam lá estar.
Mas a verdade é que não sei.
Não gosto de fazer marcha atrás.
Fica o aviso: se me virem a fazer marcha atrás, é porque me arrependi de alguma coisa. E se quiserem ficar atrás de mim, também vocês se vão arrepender.


Porquê?



27 de maio de 2010

16 de maio de 2010

12 de maio de 2010

A Objectiva Epiléptica

Grande Angular

Há cerca de 5 mil milhões de anos, houve um explosão que criou toda a massa que conhecemos. Primeiro sub-partículas atómicas, depois átomos, e depois moléculas. Essa massa que foi criada foi arrefencendo e criando objectos esféricos (porque esta é a forma entropicamente mais estável). Se os objectos criados fossem grandes, acendiam, tornando-se quentes e luminosos. São as estrelas. Se fossem pequenos, continuavam escuros e frios, e orbitavam à volta das estrelas. São os planetas. O espaço criado pela explosão continuou a crescer, e o Universo ia ficando cada vez mais frio. Há quem diga que daqui a uns tempos o Universo vai voltar a encolher, a massa a ficar cada vez mais próxima e a transformar-se outra vez em energia, e não vai restar memória de NADA, absolutamente NADA do que possa acontecer até lá. Depois há-de haver outra explosão, ou não.

Zoom in

Acordo, faço a barba, urino no banho para poupar água e tempo. Visto o fato, tropeço nos vários sapatos que estão no chão. Enquanto aqueço o leite no microondas, escolho uma gravata e visto-a. Enquanto vejo as notícias como os cereais.

Zoom in

O meu corpo tem enzimas por dentro que transformam os cereais em energia, energia que preciso para caminhar, conduzir, pensar e falar. A comida que não preciso é transformada em gordura e armazenada numa camada por baixo da pele.

Macro

No tecido adiposo.

Zoom out

O planeta onde estamos tem pouco mais de 6000 Km de raio e tem uns 6 mil milhões de habitantes. E somos cada vez mais pessoas e menos variedade de animais. E há dois tipos de pessoas: homens e mulheres. Desde sempre que o objectivo de ambos é encontrar o melhor espécime do outro lado para procriar. E cada um usa diversas armas para iludir os outros de que é melhor do que realmente é.

Zoom in

A rapariga que está ao balcão, num café da aldeia, a meio da manhã, a servir-me uma nata e um café, tem uns seios grandes e ancas largas. Logo, é atraente.

Zoom in

A gordura, nas mulheres (a tal comida em excesso), é armazenada preferencialmente nas mamas e nas ancas.
Sei conscientemente que mamas grandes e ancas largas me atraem irracionalmente, porque me dão a ilusão de que os filhos que possa vir a ter com ela não passarão fome e passarão bem pelo canal vaginal, aumentando as hipóteses de ambos virem a ser espécimes saudáveis.

Zoom out

O escritório tem um aspecto usado e antigo, com a pátina dos anos de serviço a surgirem no tecto sob a forma de fungos.

Zoom in

Um fungo é uma forma de vida das mais estóicas, prosperando em condições escuras e húmidas. A vida tem características de resistência incríveis, surgindo de quase nada e multiplicando-se exponencialmente com um mínimo de condições favoráveis.

Zoom out

No caminho para casa, passo por paisagens verdejantes e o meu ritmo cardíaco abranda. A côr “verde” tem esta capacidade porque nos remete, no sistema límbico, para um atavismo de caçador-recolector onde tudo era idílico, e as árvores verdes provienciavam-nos abrigo, segurança e comida. O vermelho, tem o efeito contrário, porque nos remete para o sangue e o fogo, e nos inspira perigo. Por isso é que a cor “verde”, nos semáforos, nos indica “pode seguir, é seguro” e o vermelho “pare, perigo”.
Chegando a casa, é altura de voltar a comer, ver um pouco de televisão.
E depois lavar os dentes, urinar, na retrete desta vez, vestir o pijama e ir para a cama para dormir.

Zoom out

O planeta deu mais uma volta sobre si mesmo (passou um “dia”). Quando der uma volta completa sobre o Sol, passou um “ano”, e eu estarei aqui ou não.

3 de maio de 2010

Gordinbunk

Eu e um colega meu num restaurante a decidir o que havíamos de comer. Hum... uma açorda de marisco caía bem, mas é pesado para agora ao jantar. E uma vitelinha de churrasco? Também me parece bem. Ou então... olha, é isso, vou pedir um Gordinbunk.



Vem o empregado, e o meu colega pergunta: "Olhe lá, o que é um Gordinbunk?"
"Um Gordinbunk é uma delícia. Trata-se de um bife enrolado com fiambre e queijo. Uma maravilha."
"Ah! Quer dizer então um Cordon Bleu!"
"Pois é isso. Mas nós não o sabíamos escrever."
"Ah ok. Era um chátou briã então se faz favor."
"E para mim um filé minhão".

24 de abril de 2010

Colite Ulcerosa.

Colite Ulcerosa (CU) é uma doença inflamatória intestinal, que provoca, entre outras coisas, diarreia.
Existe um site de apoio a portadores deste doença.
Supostamente, é possível viver com CU hoje. Há tratamentos que podem ser libertadores, e pode ser-se feliz com CU.

Agora, aparentemente, como se pode verificar no canto inferior direito, uma mulher com CU pode perfeitamente andar de biciclete ou ter sexo anal com o Manuel João Vieira.

Não basta ter o cólon inflamado e irritado, mas uma mulher com CU habilita-se a, quando estiver nas lides domésticas, a fazer a cama ou a dobrar roupa, levar na bilha do marido e gostar.

"Tens colite ulcerosa?
Toma lá o remédio, minha rosa."


Os homens, de facto.

Os homens de fato
Têm fotografias dos filhos no telemóvel.
Os homens têm filhos muito avançados, para a idade
Uma vez desmontaram a televisão.
Os homens de fato gostam de carros alemães.
Têm uma prima que trabalha na BMW em Lisboa,
E um tio que teve um AVC.

Os homens de fato andam de biciclete, todos os Domingos.
E comem Actimel, todos os dias.
Os homens de fato passaram a cagar melhor.
Os homens de fato andam de mãos nos bolsos a sorrir
Dão pancadinhas nas costas dos outros homens de fato, ajustam-lhe as gravatas.
Os homens de fato têm dois telemóveis.
As mulheres dos homens de fato são professoras, ou então mulheres de fato.

Os homens de fato têm auriculares, óculos escuros, relógios de pulso grandes
Com mostrador branco.
E pulseiras da sorte.
Os homens de fato falam de futebol e de carros. E da crise.
Os homens de fato gostam de mulheres mais novas.

Os homens de fato são homens de fato há muitos anos.
Os homens de fato leêm livros de auto-motivação.
Têm a tensão alta.
Levam-se demasiado a sério.
Os homens de fato estão mortos por dentro.


17 de abril de 2010

Expressamente proibido

Usar comandos de televisão nestas Urgências.

Deslize?



Num consultório médico perto de si.

8 de abril de 2010

Granda Trapalhão!



Gosto muito de passar nesta terra, ali quem vai para a Mealhada, antes de chegar a Sernadelo.

Faz-me lembrar o petit-nom que a minha professora de ginástica do 5º ano me deu.

4 de abril de 2010

Tokio Camping

Querido diário

Hoje é o 8º dia do nosso acampamento (eu, a Filipa, a Mafalda e a Sónia) no Pavilhão Atlântico. Estamos todas eléctricas para ver os Tokio, já nem posso esperar. Isto está a ser muito giro, ontem vieram cá uns rapazes que diziam que eram roadies dos Tokio Hotel, e que se nós quiséssemos podiamos conhecê-los. Eu não fui muito na conversa, mas a Mafalda lá foi com eles e ainda não apareceu. Ai se ela está neste momento com o Bill eu nem sei que lhe faça! Entretanto eu e a Filipa estivemos a brincar com as bolinhas Ben-Wa da Hello Kitty da Mafalda.
No início éramos muitos, mas agora somos cada vez menos. Havia uma tenda com umas miúdas mais velhas, já deviam ter uns 17 anos, estavam cá desde antes de nós, mas um dia apareceram uns rapazes mais velhos, de uns 21 anos, e com mau aspecto, que pediram para ficar lá na tenda. Nós só ouvíamos uns risinhos e uns gritinhos, como se estivessem a fazer uma festa qualquer, e que festa que devia ter sido! Porque no dia seguinte, como elas não saíam da tenda, fomos lá e elas estavam todas nuas a dormir e quando as acordámos não se lembravam de nada. Começaram a chorar e a telefonar aos pais para as vir buscar. É pena, mas sempre subimos mais uns lugares! Basta saírem mais umas 15 raparigas e ficamos nós nos lugares da frente. Isto se a Filipa se despachar, ela saíu com um homem para ser fotografada (ela que sempre quis ser modelo), e ainda não voltou. A Sónia desapareceu desde manhã e não atende o telemóvel, estou a ver que vou ter de passar a noite aqui sozinha... Ai, se ao menos o Billy Kaulitz cá estivesse para me aquecer!
Beijos

Cátia


2 de abril de 2010

Mário de Sá Carneiro - Caranguejola


Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
P'lo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde.
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará
P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. C'o a breca! levem-me p'rá enfermaria -
Isto é: p'ra um quarto particular que o meu pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras.
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

22 de março de 2010

O Target.

— Tens de ser mais objectivo a falar, rapaz. Demoras demasiado tempo a expôr uma ideia que pode ser transmitida num décimo do tempo. Não podes estar demasiado tempo a introduzir o que queres dizer, usando preciosos minutos a enrolar o croquete com preliminares desnecessários. Imagina que tu és um carro num deserto, e tens de ir para o ponto A para o ponto B. Qual é o caminho mais rápido? Uma recta, certo? O que tu tens de ser é como o comboio, que está limitado a andar em cima de carris. É impossível desviares-te do objectivo, senão descarrilas. Tens de ser como uma seta; apontas ao alvo, largas a corda e lá vai ela. Como os leões e as chitas. Sabes que eu vejo muito o National Geografic, gosto muito dos animais. E pode-se aprender muito com eles. Sabes as chitas? Elas escolhem o alvo, uma gazela ou uma impala, por exemplo, e largam a correr atrás delas. Dão mais de cem à hora a correr. Escolhem a gazela, e não a perdem de vista. Vão directas ao seu objectivo, sem fazer rodriguinhos. Se fazem rodriguinhos, perdem a presa. Estás a perceber?
— Sim.
— O que tu queres dizer tens de o dizer directamente, sem rodeios, sem analogias redundantes, sem paralelismos anafóricos, sem múltipla adjectivação, sem jactância pomposa e grandiloquente. É como os snipers. Sabes que eu vejo muito o Discovery, aqueles programas de armas e tal. Os snipers é one shot one kill, estás a perceber? Mandam um tiro directo ao alvo, apenas um. Os tropas normais, de metralhadora, já não; esses disparam quase ao acaso, espalhando o caos pelas tropas inimigas. Gastam muitas balas e matam pouca gente. Estás a ver?
— Hum-hum.
— Agora, o discurso é a mesma coisa. Não podes estar muito tempo a tentar explicar a mesma coisa, concerteza o teu interlocutor já percebeu à primeira. O ideal, neste ramo, é dizer muito e falar pouco. Usar poucas palavras, mas cheias de significado. Pois se estás muito tempo sem sair do assunto, o teu cliente perde-se.
— Pois.
— Por isso te digo, e isto é um conselho de amigo, atenção! É que eu já cá ando há algum tempo e sei bem como estas coisas funcionam. E isto é uma coisa que é muito fácil de treinar, isto de ter um discurso fluente. Ás vezes demora tempo, é uma coisa trabalhosa, mas já dizia o Churchill, sabes que eu gosto muito de ver o canal História, ele dizia assim: os meus discursos improvisados demoram muito tempo a preparar. E a verdade é esta, só com muito treino é que te tornas capaz de veicular uma ideia de forma sintética, sem rodeios, sem desperdícios, sempre com o alvo à vista. Ok?
— Ok.

18 de março de 2010

16 de março de 2010

POI

Transcrição da 2ª sessão do XVII Plenário de Onicomicose Individual.

Trichophyton interdigitale, Secretário-Geral da Unha do Dedo Grande do Pé Esquerdo, toma a palavra:

“Amigos, colegas, fungos! O assunto que vos trago é de extrema importância. As minhas palavras têm sido ignoradas e vaiadas há já demasiado tempo. Bem sei que estamos saudáveis, férteis e prolíficos, mas isto não vai durar sempre!” — apupos derrogatórios vindos da plateia — “Podem vaiar-me à vontade, mas os factos estão lá: estamos a exagerar. Bem sei que, felizmente para nós, o Indivíduo não leva a sua higiene a sério. Bem sei que, felizmente, não corta as unhas, e não lava bem entre os dedos. Bem sei que usa calçado apertado, e chega a usar as mesmas meias durante 3 dias. Mas, volto a dizer, isto não vai durar sempre!!”

No écran, surge uma fotografia:




"Este é o aspecto da nossa nobre colónia. Fomos, e ainda somos bem sucedidos na proliferação na nossa espécie, e na infecção de outros indivíduos. Estamos no bom caminho para continuar pelas unhas dos outros pés. E por enquanto, e repito, por enquanto, estamos assintomáticos. O indivíduo ainda não tomou as providências necessárias para nos erradicar. Mas isto posso afiançar-vos: o tempo está próximo.” — mais apupos derrogatórios vindos da plateia — “a verdade, para quem ainda não o saiba, é que o indivíduo já comprou uma embalagem de Fluconazol, e ainda não a utilizou porque está com preguiça e porque não tem noção dos estragos que podemos fazer. Por isso vos digo, meus caros fungos, vamos com calma! Vamos aplicarmo-nos em infectar o resto das unhas, de forma equilibrada, em vez de estarmos a rebentar por completo a Unha Grande do Pé, chamando a atenção do Indivíduo e causando a exterminação completa da nossa raça!”

Pausa pensativa. Um sorriso assoma aos lábios do Secretário-Geral.

“Longe vão os tempos da nossa colónia na Unha do Dedo Grande do Pé Direito da D. Elisa!”

No écran, surge outra fotografia. Na audiência ouvem-se suspiros de nostalgia.



Vou começar hoje a tratar-me.


Acreditam:

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