24 de janeiro de 2011

Vai Billy!



Há que conhecer o meu target. Se quero que este blog seja bem sucedido, há que respeitar a vontade democrática daqueles que me lêem, porque sois vós que dão o sentido da existência destas letras.
Descobri há pouco tempo uma ferramenta que me permite saber quantas pessoas vêem o meu blog, de onde provêm, quais os posts mais populares e, melhor que tudo, quais as palavras que escrevem no Google que vêm dar ao Zooping.

E aqui vai então:



Não é preciso fazer a regressão linear para se notar aqui uma tendência. Este é o meu leitor alvo, aquele para quem eu me dirigo quando verto no teclado estas palavras.
E não vos quero defraudar, meus amigos.
Por isso aqui vai!


Estou a olhar para uma porta partida
Já cá não há mais nada
O meu quarto está frio
Está-me a deixar maluco.

Estive aqui à espera tanto tempo
Mas agora parece que o momento chegou
Vejo as nuvens negras a voltar outra vez.

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
Através da monção
Só eu e tu.

Uma meia lua a desaparecer da minha vista
Vejo a visão na sua luz
Mas agora desapareceu e deixou-me tão sozinho
Eu sei que tenho de te encontrar
Ouço o teu nome e não sei como
Porque é que não conseguimos fazer desta escuridão o nosso lar?

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
E nada me pode separar de ti
Através da monção.

Ei! Ei!

Estou a lutar todo este poder
Que vem para mim
Que me leve até ti
Correrei noite e dia
Estarei contigo em breve
Só eu e tu
Lá estaremos em breve
Tão breve.

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
E nada me pode separar de ti
Através da monção.

Através da monção
Só eu e tu
Através da monção
Só eu e tu.

Maurício, II

Era necessário pôr ordem na casa. Fazer o check de todos os sistemas, como na NASA antes de um vôo. Era preciso aquecer os reactores, verificar a ausência de fugas, colocar lentamente todo o sistema em operação. Ia demorar, Maurício sabia-o. A sua boca ainda estava forrada de um estranho miasma de sabor ocre, o nariz entupido, os olhos lentos e inchados por baixo das pálpebras. Mas primeiro, saber onde estava. Sabia que não estava em casa, pois em sua casa, no lugar das persianas que não funcionavam, estava um poster do Iggy Pop que assumia contornos fantasmagóricos quando iluminado pela luz da rua.
Enquanto pensava precisamente onde estava, apercebeu-se com espanto (mas sem medo) que não estava sozinho. Ouviu um suave estertor vindo de muito perto, de ao lado dele. Virou-se a custo para a fonte do barulho, e era uma mulher, mas não sabia quem era. Raciocinou o suficiente para tirar a ilação de que, se estava ali uma mulher, estava por sua livre vontade. Com muita calma então, encostou-se mais um pouco a ela para, pelo menos, a identificar. Colocou-se em concha por trás, e ainda de olhos fechados (não serviriam de nada de qualquer maneira) passou-se calmamente a mão desde o ombro até à anca. Descobriu com agrado que era uma fêmea exemplar, tonificada e de pele suave, com uma camadinha apenas de gordura, mas firme, como um tapete de rato. Cheirava bem também, a animal quente, a mamífero pequeno depois de hibernar. O resto do quarto, no entanto (se é que se tratava de um quarto) exibia toda uma panóplia de cheiros agridoces e aromas, a roupa molhada, a meias sujas, a mosto pisado, a destilaria abandonada. Ora, uma boa maneira de despoletar a memória, de saber onde estava, era saber com quem estava. O latejar da cabeça de Maurício continuava impiedoso, mas pelo menos agora era constante e monótono. À medida que Maurício continuava a apalpar terreno, passando as mãos pela pele da sua companheira, fazendo um agradável som de lixa de água a passar numa madeira nobre, a mulher voltou a mostrar sinais de vida. Murmurou um “hum” lento e rouco, e um barulho com a boca como se estivesse a comer. O barulho que fez sugeriu que, como Maurício, teria também a boca revestida de um pernicioso miasma, de saliva viscosa. Mexeu as mãos, e inconscientemente levou a mão direita ao meio das pernas de Maurício. Ao tocar no seu membro entumescido, afastou a mão quase de repente, como um pequeno susto, mas voltou a colocá-la no mesmo sítio com cuidado e reverência. “Publicidade enganosa, amiga”, apeteceu a Maurício dizer. Era um pretexto como qualquer outro, para Maurício se levantar, dirigir à casa de banho e, com sorte, tentar tirar algum sentido de tudo aquilo. Vamos a isso então, pensou Maurício, enquanto fazia um colossal esforço para se sentar na borda da cama. Sorveu as últimas gotas da garrafa de água e esfregou os olhos. Apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, e voltou a incógnita. Mas onde diabo é que estou? Como é que vim aqui parar? Quem é esta aqui ao lado? Maurício tinha quase uma alegria infantil, de jogar às escondidas ou ao quarto escuro, ou de uma criança a abrir uma prenda de Natal. Mistérios destes, tão básicos, são já muito raros numa pessoa de 27 anos.
Uma pequena luz azul que piscou, fugaz, que Maurício vislumbrou pelo canto do olho, indicou-lhe a vaga localização do seu telemóvel. Caminhou cautelosamente pela penumbra do quarto para o resgatar. Estava no chão. Eram nove da noite.

17 de janeiro de 2011

Maurício


Quando Maurício deu conta de si (acordou?), não se mexeu durante muito tempo. Uma eternidade, pareceu-lhe. Não sabia de estava a dormir de olhos abertos, ou acordado de olhos fechados, ou ambos. Já lhe aconteceu mais que uma vez, em cirtcunstâncias semelhantes, lembrar-se de um episódio do MacGuyver em que este tinha de desarmar uma bomba feita por um miúdo com problemas, filho do seu antigo professor de Física. Esta bomba tinha um mecanismo que a impedia de ser transportada com facilidade: tinha um pequeno prato de vidro, rodeado de pontas de fios de metal, e com uma pequena porção de mercúrio no meio. Se a bomba fosse transportada, ou sofresse um pequeno embate, a gota de mercúrio tocaria nas bordas do prato de vidro, e consequentemente nos fios de metal, completando o circuito e detonando-a.
E porque é que Maurício se lembrava desse episódio do MacGuyver em particular? Em primeiro lugar, porque era um fã. E depois, porque a sua condição o fazia lembrar dessa bomba e do seu mecanismo de detonação. Na verdade, a sua cabeça lembrava-lhe o mecanismo. O seu cérebro lembrava-o de uma gema enorme de mercúrio, precariamente guardada dentro do seu crânio. E qualquer movimento que fizesse, que vencesse a inércia na gema de mercúrio, esta entrava em contacto com a parede interna do crânio. E não despoletava nenhuma bomba (era a diferença para a bomba do MacGuyver), mas despoletava sim uma sequência de eventos horríveis, como uma dor latejante e excruciante na cabeça, os globos oculares a querer sair ritmicamente das órbitas, como se o coração partilhasse o mesmo espaço que o cérebro. E uma dor difusa por todo o corpo, não tão excruciante, mas uma moleza gripal, como se tivesse levado uma malha no dia anterior.
E Maurício tinha de se mexer, para não ganhar escaras. A luz que vinha lá de fora, entre as frestas da persiana, não era suficiente para descortinar que horas seriam, ou se seria de manhã ou à tarde ou mesmo à noite.
Aliás... Maurício nem sequer sabia onde estava. Tudo lhe era alheio. A cama, a almofada, os cheiros. não sabia onde era a porta. Sabia onde era a janela, apenas porque conseguia ver os risquinhos de luz azulada que a persiana permitia entrar. Parecia um texto em código Morse, só com ssss.
Normalmente, nestas alturas, as memórias começavam a vir a conta-gotas, mas desta vez não. Inconscientemente, e com esforço, levou o braço ao chão e apalpou até encontrar uma garrafa de plástico meia cheia. O instinto disse-lhe que lá estaria (talvez lá tivesse ido durante a noite, ou aliás durante o tempo em que esteve a dormir.
Bebeu, era água um pouco tépida. Bebeu pouco, pois a maior parte da água era absorvida pelas mucosas. A sua língua sentia-se quebradiça contra um palato feito de cera, e agora absorvia água egoisticamente como uma esponja. Bebeu o resto da garrafa, e depois voltou a deitar-se com esforço, fazendo o som de um bidão meio cheio.
Mas afinal o que é que se passou?

Em Maurício Não Sabe de Si, por Maurício Leal.


5 de janeiro de 2011

Morre, vaca!

Dona Celina passou a gostar mais de cães.

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