17 de junho de 2011

"Crise" dos pepinos.

Se me pedissem para escolher, com uma arma apontada à cabeça (ou se calhar nem seria preciso), um qualquer alimento que fosse votado ao opóbrio, injectado de calúnias e desconfiança e contaminado com uma bactéria mortífera, nem piscaria os olhos: o pepino.
O ódio que devoto ao pepino é tão entranhado em mim que quase se estende às pessoas que gostam de pepino.
O pepino é uma espinha na minha dieta, eu que me orgulho de comer de tudo, embora goste mais de umas coisas que doutras. Tolero bem favas, arroz de ervilhas, pescada cozida, esparregado, coisas que não comia quando era miúdo, mas agora consigo até gostar se estiverem bem confeccionadas.

Agora pepino... nem consigo comer salada que tenha pepino. Nem que o afaste. O cheiro dá-me náuseas. Até me custa comer numa mesa que tenha pepino em cima, por mais segregado que esteja.

Odeio pepino, e tenho um gáudio secreto que esteja contaminado com E. coli. Tenho pena dos produtores nacionais, claro, mas por outro lado, eles que se pusessem a crescer comida a sério e não um vegetal que, ao contrário das cenouras, bananas e beringelas, parece que começou a carreira como brinquedo sexual e só depois se lembraram do seu valor nutricional.

Não tenho palavras para descrever o quanto eu abomino pepino, e quanto estranho haver gente que gosta dele. Posso dizer que, num caso extremo de queda de um avião nos Andes, em que só há pepinos ou o recurso ao canibalismo, posso dizer que aí talvez comesse uma fatia de pepino, mas teria logo de comer uma orelha ou uma nádega de um cadáver para tirar o gosto da boca.

Até o nome é horrível. “Pepino”. Lembra mesmo um fruto, ou vegetal (para sermos precisos: cucurbitáceos) que passa do estado “verde” para “podre” sem passar pelo estado “maduro”. Em inglês é ainda pior, “cucumber”. As duas primeiras sílabas insistem mesmo no orifício onde se pode enfiar o diabo do cucurbitáceo, onde só pode saber melhor do que se fosse pela boca.

Vou, no entanto, admitir que existe uma forma de comer pepino que não desgosto. Apenas porque só muito recentemente soube que se tratavam realmente de pepinos, ou mais precisamente, dum parente muito próximo. Chamam-se “cornichons”, ou pepinos bebés em conserva. Os da Ferbar são os melhores, a acompanham muito bem qualquer prato com queijo, como Raclettes.

Reparai que o meu ódio aos pepinos é profundo e indelével. E que a única maneira de eu os comer é se colherem pepinos bebés e os votarem a uma morte agonizante por afogamento em ácido acético. E depois são colocados aos montes em jarros de vidro e expostos nos supermercados para toda a gente ver. Como sinistros embriões conservados em formol numa casa dos horrores.

Eu estimo bem que os pepinos se fodam todos, que entrem em vias de extinção. Ou que se extingam mesmo.

Morte aos pepinos.


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