25 de novembro de 2010

Os nomes.



Há que ter cuidado quando se dá um nome a um filho ou filha por nascer. É um acto de enorme responsabilidade, porque é das poucas coisas que o/a vai acompanhar até ao fim da vida. Pode decidir o seu futuro profissional (deve haver um estudo que o prova), e pode mesmo decidir a personalidade dessa pessoa.
Entre dois homens, um chamado Joaquim (o Quim) e outro chamado Gonçalo (Dr. Gonçalo), qual é o mais atreito a trabalhar nas obras?
Entre duas mulheres, uma chamada Cátia, Natacha, Celina ou Sandra, e outra chamada Inês, Isabel, Patrícia ou Teresa, qual será a mais badalhoca? Quem destas será mais estatisticamente favorável a engravidar sem saber quem é o pai? Quais serão as maiores fãs do Tony Carreira?
Há excepções, como é óbvio. Uma Mafalda, por exemplo, ou Filipa, poderá tanto ser uma ordinária dos sete costados, gastando as suspensões do AX do pai e os colchões podres da serra do Crasto; como uma betinha niquenta da linha de Cascais. O mais das vezes, as duas coisas em simultâneo. Grande parte dos homossexuais têm também nomes que são fáceis de fazer trocadilhos, como Gabriel e Guimarães.
Por isso, pais que estão prestes a sê-lo, tende cuidado com o nome que dão aos filhos.

No Futebol


Onde é que eu quero chegar com isto? Gente há que, com uma prespicácia rara, dá os nomes aos filhos predestinando-os àquilo que eles serão. Não me acredito que Dona Dolores, pegando no seu filho bebé vestido de branco à beira da pia baptismal, acreditasse que o seu filho Cristiano Ronaldo iria ser um prodígio da bolsa ou um candidato ao Nobel da Química. Cristiano Ronaldo tinha o seu fabuloso destino marcado desde o momento em que teve nome. Na pior da hipóteses, seria um mediano trabalhador das obras com um part-time no Repesenses, cuja carreira passou ao lado.


Cristiano Ronaldo é, sem dúvida, nome de jogador da bola. Tem Cristiano no nome, como um Cristo, o Messias do futebol. E Ronaldo, atavismo sagrado do esférico, nome de gigantes da bola. Ronaldo, Ronaldinho, mesmo Ronaldão é bom nome de central ou guarda redes.

E passamos então para os grandes nomes do futebol. Com ênfase nos “nomes”. Aqueles jogadores que tiveram de o ser por imposição onomástica.
Existem nomes curiosos, alguns cómicos, alguns exagerados. Como o grande Arsénio Sebastião Cabúngula, mais conhecido como Love, avançado em Angola no Primeiro de Agosto. Doctor Khumalo, Sul Africano, Cerezo Fung a Wing, do Suriname, o congolês Christ Bongo, o australiano Danny Invincible, e os brasileiros Mozart e Creedence Clearwater Couto são nomes que primam pela originalidade.
Mas e os nomes que respiram futebol?
Para mim, os jogadores que têm dos melhores nomes de futebolistas são por exemplo os búlgaros. Temos os monstros sagrados que são Krassimir Balakov e Dimitar Berbatov. Temos Emil Kostadinov e Ivaylo Yordanov. E temos o grande Hristo Stoichkov. Tudo nomes que inspiram medo no adversário, o jogo frio e calculista da guerra fria, a eficácia robótica na marcação de livres e a violência dos embates corpo a corpo.

Há outros jogadores com grandes nomes de jogadores. Paulinho Cascavel. Michael Ballack. Gianluigi Buffon, sobrinho de Lorenzo Buffon (duvido que fosse o guarda-redes que foi se se chamasse Pollo). Diego Armando Maradona.
Mas em primeiro lugar, quem tem os melhores nomes de jogadores da bola é a Holanda. Parece que os nomes foram inventados de propósito para instigar o medo e o respeito dos adversários. Ruud Gullit. Tem Ruud no nome, é um homem rude. E Gullit, que lembra golos. Ronald Koeman tem Ronaldo (mais um) e Koeman, bela onomatopeia para um remate de meio campo. Frank Rijkaard tem muita pinta. Rudy Voller.
E o príncipe de todos os jogadores, aquele sim com nome de manga japonesa, que ou abortaria à nascença ou seria uma lenda do Futebol.
Marco Van Basten.
Impossível fazer melhor, se alguém se chamasse Chuta Von Golos já cheirava a forçado.

No Rali

No rali passa-se exactamente a mesma coisa, nomes há que estão predestinados a rasgar o alcatrão. Nomes que inspiram loucura finamente controlada, o cheiro a gasolina mal queimada, a trepidação nas entranhas quando os carros passam a cuspir gravilha.
Entre os grandes nomes contam-se a Bulgária do cascalho, que é a Finlândia. Talentosos pilotos de rali parece ser a principal exportação desse pequeno país nórdico, e não duvido que a maior parte do mérito é onomástico. Tommi Makinen parece demasiado óbvio, e dizer que o Makinen é uma máquina soa a aliteração. Simo Lampinen, Henri Toivonen e o grande Ari Vatanen são outras lendas das estradas de imortalidade assegurada em grande parte devido ao nome.
O alemão Walther Rohl, e o sueco Bjorn Waldegard são outros dois bons nomes (o primeiro poderia ser também uma marca de relógios de topo, e o segundo uma marca de carburadores ou o melhor trompetista de sempre)
François Delecour e o malogrado Richard Burns entram na lista, o primeiro por inspirar suplesse e o segundo por denotar borracha queimada.

Continuano, pilotos de rali, destas vez italianos. Itália é a Holanda do desporto motorizado (Valentino Rossi foi desenhado para andar de mota). Mas nos ralis temos o grande Sandro Munari, lenda do Lancia Stratos. O enorme Gigi Galli, que apesar de ter menos nome de piloto do que de palhaço, é nome de personagem fora do baralho. Aquele que, ao assomar-se na curva, todos esboçam um sorriso “Aí vem o Gigi Galli, deixa cá ver como vai ser desta vez”. E depois presenteia-nos com pérolas destas.

E finalmente, o Marco van Basten dos ralis. Italiano de gema também, duas vezes campeão do mundo, 17 vitórias em ralis incluindo 3 em Portugal. O porta estandarte da Lancia, o grande Massimo “Miki” Biasion.

Tem Massimo no nome, como um centurião romano, e tem Biasion, que parece um aparelho secreto dos carros de rali. Tipo sonda lambda. E alcunha “miki”, falsamente carinhosa, pois Massimo Biasion, por se chamar assim, irá reduzir a pó que se atravessar à sua frente.

E aqui vai o meu corolário. Ao contrário do futebol, nós portugueses não temos nenhum nome sonante nos ralis. Não temos nenhum Jorge Gazão, nenhum Pedro Cascalho, nenhum António Dafundo. Temos sim (vide Google), um José Carpinteiro Albino e um Francisco Romãozinho. Isto são nomes de jogadores de sueca.


18 de novembro de 2010

O Brinco de Pérola.

Dirigi-me depois à gaveta onde se encontrava o outro brinco. Comparei-os. O que tinha acabado de limpar tinha a pérola com uma côr mais enegrecida, mas só olhando com muita atenção. Rezava para que a minha mulher não desse conta. Só me falta agora arranjar agora o seguimento da partida que lhe fiz pensar que preguei dois dias antes, terá que ser algo elaborado. Dentro de um bolo, talvez?

Coloquei o brinco em água quente com umas gotas de lixívia, enquanto lavei o material que usei e o arrumei no sítio. Dediquei-me depois a lavar o brinco, que, como verifiquei, ainda tinha matéria fecal nos arabescos de prata, com uma escova de dentes e líquido de limpeza de pratas. Esfreguei, esfreguei e esfreguei até julgar que o brinco estava limpo.

A minha mulher voltou com o semblante carregado. De dúvida, de nojo, de incredulidade e curiosidade. Mais nojo, talvez. Mas ninguém disse nada. No dia seguinte de manhã, fiz a mesma rotina. Desta vez o balde esteve mais tempo na varanda, e o cheiro era pior, calculei que seriam os muitos camarões que comi no casamento. Demorou mais tempo a filtrar pelo coador de metal, pois o líquido era mais viscoso e necessitou de alguns acrescentos de água quente. Mas finalmente, lá estava o brinco! O pior já passou.

E pus mãos à obra. Meti o coador de plástico no fundo da sanita, e aliviei-me. Com cuidado para não deitar nada fora. Limpei-me, retirei o coador com as fezes, e virei-as para o balde que já tinha água quente. Coloquei o balde na varanda, e fui mexendo com a colher de pau. Passadas umas três horas, verifiquei que a mistura estava líquida e homogénea, e filtrei tudo com o coador de metal para a sanita. Nada. Ainda estava dentro de mim.

No caminho de casa, pensei nos passos a seguir. Sentia-me cheio, mas só iria cagar no dia seguinte de manhã. Quando a minha mulher saíu, tinha a lista mental do que necessitava. Um coador de plástico para lavar as saladas. Um coador de metal para fritar as batatas. Um balde, uma colher de pau, umas luvas de lavar a louça.

Vi a cara de desconcerto e pânico da minha mulher. Que fizeste? Explicou-me que aqueles brincos eram da mãe e já foram da avó. São valiosíssimos. Mantive a compostura possível, e tentei convencer a minha mulher que não havia problema, era só uma piada elaborada. Um golpe de mágica. Dentro de um dia, no máximo dois, teria o brinco de volta. E foi, julgo eu, o elevado grau de incredulidade de que o brinco da avó iria passar pelo meu sistema digestivo, que a levou a pensar que acreditava.

Numa festa de casamento, com a noite adiantada, tomei uma atitude romântica. Mordisquei a orelha da minha mulher (pára, que me arrepias!), e na brincadeira, com os dentes, arranquei-lhe o brinco da orelha. Na brincadeira outra vez, bebi um copo de champanhe e engoli-o. E agora?

4 de novembro de 2010

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