18 de novembro de 2010

O Brinco de Pérola.

Dirigi-me depois à gaveta onde se encontrava o outro brinco. Comparei-os. O que tinha acabado de limpar tinha a pérola com uma côr mais enegrecida, mas só olhando com muita atenção. Rezava para que a minha mulher não desse conta. Só me falta agora arranjar agora o seguimento da partida que lhe fiz pensar que preguei dois dias antes, terá que ser algo elaborado. Dentro de um bolo, talvez?

Coloquei o brinco em água quente com umas gotas de lixívia, enquanto lavei o material que usei e o arrumei no sítio. Dediquei-me depois a lavar o brinco, que, como verifiquei, ainda tinha matéria fecal nos arabescos de prata, com uma escova de dentes e líquido de limpeza de pratas. Esfreguei, esfreguei e esfreguei até julgar que o brinco estava limpo.

A minha mulher voltou com o semblante carregado. De dúvida, de nojo, de incredulidade e curiosidade. Mais nojo, talvez. Mas ninguém disse nada. No dia seguinte de manhã, fiz a mesma rotina. Desta vez o balde esteve mais tempo na varanda, e o cheiro era pior, calculei que seriam os muitos camarões que comi no casamento. Demorou mais tempo a filtrar pelo coador de metal, pois o líquido era mais viscoso e necessitou de alguns acrescentos de água quente. Mas finalmente, lá estava o brinco! O pior já passou.

E pus mãos à obra. Meti o coador de plástico no fundo da sanita, e aliviei-me. Com cuidado para não deitar nada fora. Limpei-me, retirei o coador com as fezes, e virei-as para o balde que já tinha água quente. Coloquei o balde na varanda, e fui mexendo com a colher de pau. Passadas umas três horas, verifiquei que a mistura estava líquida e homogénea, e filtrei tudo com o coador de metal para a sanita. Nada. Ainda estava dentro de mim.

No caminho de casa, pensei nos passos a seguir. Sentia-me cheio, mas só iria cagar no dia seguinte de manhã. Quando a minha mulher saíu, tinha a lista mental do que necessitava. Um coador de plástico para lavar as saladas. Um coador de metal para fritar as batatas. Um balde, uma colher de pau, umas luvas de lavar a louça.

Vi a cara de desconcerto e pânico da minha mulher. Que fizeste? Explicou-me que aqueles brincos eram da mãe e já foram da avó. São valiosíssimos. Mantive a compostura possível, e tentei convencer a minha mulher que não havia problema, era só uma piada elaborada. Um golpe de mágica. Dentro de um dia, no máximo dois, teria o brinco de volta. E foi, julgo eu, o elevado grau de incredulidade de que o brinco da avó iria passar pelo meu sistema digestivo, que a levou a pensar que acreditava.

Numa festa de casamento, com a noite adiantada, tomei uma atitude romântica. Mordisquei a orelha da minha mulher (pára, que me arrepias!), e na brincadeira, com os dentes, arranquei-lhe o brinco da orelha. Na brincadeira outra vez, bebi um copo de champanhe e engoli-o. E agora?

1 comentário:

Filipe Martins disse...

Já não lia uma boa história de comer brincos e cagá-los há uns anos.Verdadeiramente deliciosa!

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