8 de dezembro de 2011

Os Pilotos-Aviadores

E agora, uma pequena palavrinha sobre essa nobre e digna classe profissional, que desde sempre tem sido subestimada e maltratada pelos patrões: os Pilotos-Aviadores.
Como é óbvio, estou a ser sarcástico. Os Pilotos-Aviadores (e escrevo em maiúsculas também sarcasticamente para sublinhar a mesquinhice pedante típica destes cabrões) são uma cambada de primadonas idiotas, megalómanos e arrogantes, que pensam genuinamente que a sua linha de trabalho é das mais nobres, exigentes e românticas que existem. Quando, na realidade, é precisamente o oposto.

Não e por acaso que escrevo isto agora, em vésperas de mais uma greve que vai custar 100 milhões ao país e um imensurável transtorno a milhares de vidas, de portugueses e estrangeiros.

Vamos a ver: Andei de avião há pouco tempo. Longe vão os dias em que andar de avião era uma excitação e os passageiros batiam palmas quando se aterrava, coisa que me compelia a perceber os terroristas que explodem os aviões. Seria eu o primeiro, tivesse um cinto com explosivos.
Essa viagem deu-me tempo para destilar e concentrar o meu ódio por esta gente, todos os envolvidos nos transportes aéreos em geral e os pilotos em particular.

Por isso, dedico esta linha a todos vós pilotos-aviadores, obsoletos parasitas, raquíticos ditadores, fardados burocratas que não sabem que não passam de areias na engrenagem.

Em primeiro lugar, vocês não são tão especiais como pensam. Não estamos como há 100 anos atrás, no tempo dos loucos aviadores, na corrida pelo ar, em que realmente se morria a voar, em que haviam os ases, em que pilotar um avião era realmente difícil. Hoje, e vocês sabem isto melhor que ninguém, pilotar um avião é mais fácil que tirar um fino. Um avião de carreira, hoje em dia, apesar da tecnologia ser superior, o seu manejo é infinitamente mais simples do que conduzir um autocarro. Um autocarro com asas e tripulação inútil é, na verdade, do que se trata um avião.
É fácil de ver porque é que a “cabine” de um avião é um local fora das vistas e das visitas dos passageiros, pois seria desagradável que um passageiro reparasse que, na realidade, tudo o que um piloto faz num avião é carregar num botão para ele descolar e carregar noutro (quiçá no mesmo) para ele aterrar. No intervalo, proferir uns discursos condescendentes para os passageiros, dizendo as horas e o tempo no destino, o tempo de viagem, e pedir uns cafés às hospedeiras.
Caros pilotos, apercebam-se desta realidade: CAIU O PANO. Vocês estão obsoletos, são desnecessários e um macaco treinado consegue fazer o que vocês fazem, por muito menos dinheiro.

Está provado que a enorme maioria dos felizmente já raros acidentes de avião são de causa humana. Daí que toda a tecnologia desenvolvida nos transportes aéreos têm a ver com a automação dos processos, por forma a impedir que vocês tenham cada vez menos capacidade de FAZER MERDA.

Percam as peneiras, caros amigos. Todo o pessoal envolvido nos aeroportos estão cartelizados, porque infelizmente as opções de viagens intercontinentais são parcas.
Mas é uma questão de tempo, e vai ser ainda na mesma geração, que vocês, pilotos, vão ser relegados para uma posição que merecem. Não vão mais ganhar 3 ou 4 mil euros por mês para fazer um trabalho que qualquer engomadeira consegue fazer. Vocês vão descer para a posição de um qualquer motorista de carreiras, que por sinal é uma profissão muito mais nobre, exigente e menosprezada que a vossa. Um motorista, para levar o autocarro ao destino, tem apesar de tudo de operar o veículo, usar acelerador e travão, prestar atenção ao tráfego, estar concentrado durante a viagem toda. Não há cá piloto automático para ninguém. E é uma lei da vida imutável, que estas modas vão passar. Os motoristas de autocarro continuarão a sê-lo, vós pilotos irão deixar de ser as reizinhos que são, para dar lugar, eventualmente, aos pilotos de naves espaciais dos ferries Terra-Lua. E mesmo esses, um dia, serão substituídos por computadores.

Percam as peneiras. Se eu estivesse no vosso lugar, continuaria obviamente a chupar o estado com os ordenados principescos, férias e folgas à patrão, condições de trabalho e seguros de uma estrela rock. Mas já me teria apercebido que isto vai acabar, que o povo se vai aperceber de que o rei vai nu, e de que mais cedo ou mais tarde vou ser justamente substituído por um processador do tamanho de uma bolacha, que vai tornar as viagens de avião naquilo que são: não uma romântica aventura mas o único meio de ir de A para B mais rapidamente.
Acordem.

Carlinhos está triste porque lhe baixaram o ordenado para uma banana por dia.

14 de novembro de 2011

Fotografias de casamento.

...” Detinha-se frequentemente a olhar para as montras, quando saía à rua sozinho, num estado de fascínio permanente. Uma vez esteve parado durante mais de meia hora em frente a uma loja de fotografias pela qual já passara inúmeras vezes. Só que, daquela vez, era especial: as lojas de fotografia tinham por tradição fotos expostas que lá foram tirando durante os anos; debaixo do título “Fazemos fotografias tipo passe” estavam colados inúmeros papéis com caras de pessoas anónimas, que visto de longe parecia um mosaico confuso. Mas vistas de perto, a dois palmos do vidro da montra, eram caras de pessoas, pessoas que ele nunca tinha visto na vida, apenas talvez uma ou outra ele reconhecera da rua, dalguma loja, da vizinhança. Um pouco mais à direita estava algo bem mais interessante: Um dístico dizia “Fazemos Casamentos”, ou qualquer coisa do género. Fotografias e mais fotografias de casamentos, cerimónias, noivos e noivas estavam em todo o lado. Estavam expostas dentro de várias molduras que a loja anunciava que fazia, de modo que inúmeros casamentos de desconhecidos estavam emoldurados por um fofo coração vermelho, estofado de veludo, ou por uma grossa armação de madeira com uns cupidos sentados no topo. Aquela exposição intrigava-o: Fazia-o sentir que a emoção e a privacidade de cada um dos casais era ali espoliada e retalhada e vendida a vulso. Não por culpa do lojista: o que se passava era que, por exemplo, aquele rapaz de cara humilde que havia sido fotografado junto de um jardim de uma capela da aldeia rodeada por casas em construção, junto da sua noiva baixa e gordita, toda arranjada para aquela ocasião solene; esse rapaz sentia-se provavelmente – esperava ele – que aquele momento era só dele, que a sua noiva era a mais bonita do mundo, reviria aquele momento como o mais importante da sua vida, esperaria com deleite a noite de núpcias para tirar os três da sua noiva. Pois bem, tudo o que ele sentia era partilhado com mais trinta casais que só aquela loja tinha fotografado naquele mês.

Contemplava com especial curiosidade uma moldura que estava quase ao meio da montra, um pouco desviada para a esquerda. Jurava que já tinha visto aquela cara nalgum lado. Chegou quase imediatamente à conclusão de que nunca conhecera a rapariga, apenas que aquela fotografia já lá estava havia tanto tempo, que ele já a vira sem atenção, que ele pensava que a conhecia.

Tratava-se de uma moldura rectangular, de madeira escura, dividida em duas partes. Jazia na montra no meio de todas as outras, no meio daquelas irritantes bolinhas de esferovite e alguns rolos gastos. Eram duas fotografias, e estavam dispostas a parecer do género “antes” e “depois”, embora nada lá estivesse escrito. Na fotografia da esquerda aparecia a dita rapariga. Era uma rapariga bonita, de cabelos compridos e claros, de aspecto um pouco estúpido ou infantil. Só do busto para cima estava fotografada. Apercebia-se que seria provinciana, estatura média, cheia de tronco e de ancas largas e coxas volumosas. Estava num cliché de provocação, o clássico das fotografias de ocasião. Na sua farpela de Domingo, a cabeça um pouco baixa à laia de convite, a mão apoiada em cima da cama para desfazer dúvidas. Um chapéu de grosso tecido verde que deixava entrever os olhos numa expressão de lascívia inocente, abraçava uma rosa artificial contra o peito com as suas mãozitas gorditas. Toda aquela pose sugeria um sentimento muito especial, de menina-quase-mulher, de provocação erótica, de inocência perdida.

Na fotografia da direita, já casada, estava a mesma miúda toda embrulhada no seu vestido branco de noiva, sentada sobre a sua cama de colcha rendilhada. O quarto era espartano, com a mobília em madeira prensada e brilhante, na mesinha de cabeceira estava um Nossa Senhora fosforescente sobre uma toalhita de renda, o seminal terço espalhado pela parede por cima da cama, de madeira escura, grosso e agressivo. A rapariga estava sentada de esguelha por cima da cama, o braço esquerdo a apoiá-la, a mão com os dedos muito abertos sobre a colcha. Nos olhos a mesma expressão da fotografia ao lado, o sorriso oblíquo, as sobrancelhas cerradas.”

24 de outubro de 2011

Billy Drago



Há pessoas que nascem bafejadas pela sorte. Umas há que nascem com um talento qualquer específico, outras cujos genes lhes permitem comer sem engordar, ou chegar ao sessenta anos a parecer que têm vinte, ou que têm um aspecto que lhes permite assumir qualquer tipo de papel no grande e no pequeno ecrán.
Existe uma pessoa, que se inclui nestes raros espécimes, que é uma classe à parte.
Billy Drago de seu nome, nasceu com o verdadeiro aspecto de filho da puta.

De seu verdadeiro nome William Eugene Burrows, desde muito cedo que Billy se apercebeu que, se quisesse seguir a carreira de actor, muito dificilmente poderia almejar um papel de polícia, de advogado, muito menos de professor primário. De qualquer modo, o papel de “bom da fita” estava-lhe vedado à partida.

Nada disso desmotivou o jovem Billy. Sabia que havia um filão em Hollywood, reservado para as pessoas de sorte ambígua, pessoas que causam asco e medo apenas ao olhar para elas. E Billy Drago parece o filho ilegítimo de Satanás e uma bruxa anónima. Mudou de nome, um nome bem a propósito, e Hollywood passou a ser a sua concha.

Desde o início da sua carreira, Billy Drago só desempenhou o papel de mau. Já levou porrada do Chuck Norris na Força Delta, já foi demónio, vampiro, assassino contratado, mafioso e barão da droga.
Não faço ideia de como é o Billy Drago como pessoa. Se calhar é mesmo filho da puta, devido à quantidade de papéis equivalentes que desempenhou... não acredito que uma vida inteira a desempenhar papéis de vilão não tenha o seu preço. Mas também é possível que seja uma jóia de pessoa, que leve os filhos ao futebol, que cozinhe em casa para a mulher, que vá à missa e dê dinheiro para caridade.

Mas eu, por mim, se o visse na rua, esbofeteava-o. Pelo sim pelo não.

18 de setembro de 2011

Vindimas!

Chegou a altura das vindimas. E também a altura de nós, malta citadina (ou civilizada), sermos gozados pelas pessoas das aldeias por não sabermos o que é um almude.
Ora, passei mais tempo do que gostaria em pesquisa cuidadosa sobre essas arcaicas unidades de medida, e esta vai ser a última época das vindimas em que eu serei gozado por esses aldeões.
Elaborei uma cábula, que coloco ao vosso dispôr, à laia de serviço público, de modo a que nós, florzinhas-de-estufa-que-nunca-vimos-um-frango-vivo, não mais seremos alvo de piadolas fáceis.

A saber:

Um almude é o mesmo que 10 arrobas, e cada arroba é o mesmo que 10 quintais, a não seja que o ano seja bissexto, neste caso são 13 quintais e meio.
Um quintal é uma horta da parte de trás da casa.

Um alqueire, se for acima do Tejo, são 30 onças. Abaixo do Tejo, é meio arrátel se for lua cheia, caso contrário são 3 quartilhos.

Um tonel são exactamente 10 pipas antes do almoço, ou mais ou menos 9 pipas a seguir. Uma pipa são 40 canadas, cada canada são 18 escrópulos, 4 escrópulos são 13,3 quilates, 12 quilates perfazem um palmo de craveira, e cada palmo de craveira corresponde a 28 Megabytes.

Uma légua terrestre corresponde a 1500 varas, que é o mesmo que dizer a distância percorrida por um homem de 3 côvados de altura com um peso de 50 arráteis às costas durante uma hora, em terreno plano.
Uma légua marítima é igual à légua terrestre, só que maior e mais molhada.

Uma alfarroba tanto pode ser a primeira arroba a ser pesada, como a semente da alfarrobeira, como uma pessoa que vende livros em segunda mão.

Um moio são 15 fangas, que são 3 quartas, ou 20 maquias. Uma maquia são 2 selamins. Um meio selamim, escusado será dizê-lo, são 16 decibéis.
Um côvado é a altura máxima que um lobo consegue saltar.
Um quilate é um quilo mais pequeno. Não confundir com um karat, que é a comprimento equivalente a 1000 cenouras de 12 onças cada uma colocadas em fila.

Não é assim tão difícil, amigos citadinos. Não vos esqueceis que nós estamos habituados ao sistema SI, que é uma convenção como qualquer outra... os antigos lá tinham as suas medidas, e quem somos nós, frágeis vidrinhos, para dizer que as nossas fazem mais sentido?

Espero que vos tenha ajudado.

26 de agosto de 2011

Os Gatos e os Cães.

Eu curto gatos. Os americanos é que usam isso, a dicotomia entre gatos e cães, de acordo com a preferência das pessoas. Uma pessoa é uma “cat-person” ou uma “dog-person”, como se fossem mutuamente exclusivas.
Eu gosto muito de cães, regra geral. Não gosto de pitbulls nem de caniches, mas gosto do animal em si. Mas gosto muito mais de gatos. E os americanos têm razão, é possível gostar dos dois, mas ou se é “pessoa de gatos” ou "pessoa de cães”. Num pequeno aparte, esta definição está longe de ser simétrica, ou que mostra bem a diferença entre os gatos e os cães. Conheço muita gente que gosta de cães, e/ou que gosta de gatos. Mas conheço muito mais gente que “detesta gatos” do que gente que detesta cães. E as razões pelas quais algumas pessoas detestam os gatos são precisamente as mesmas que me levam a gostar deles.
E existe também o mito, que eu pretendo desfazer pela lógica, de que os homens que gostam de gatos são menos homens do que aqueles que gostam de cães. Que são maricas, ou cobardes, ou sem princípios, ou seja o que for.

Os cães têm a seu favor o facto de serem leais. Vêm sempre que se os chama, salvam crianças dos fogos, ajudam os ceguinhos, protegem a casa. E pelo módico preço da ração para cães, uma pessoa tem tudo isso e mais um amigo.
Agora os gatos... têm aquela inteligência imediata. Os gatos estão-se a cagar para nós. Para nós, os humanos, os “donos” (só entre aspas se pode ser dono de um gato), nós somos um meio para atingir um fim; fim esse que só eles sabem. Eles estão lá, e fazem companhia; a mesma companhia que faz um filho adolescente a passar por uma má puberdade: Aparece quando bem lhe apetece, faz um raid ao frigorífico e ainda faz uma soneca no sofá. E não vale a pena mandar vir com ele, porque ele não aprende ou então faz pior. Tipo deixar um cagalhão no meio da cozinha.
Mas, então, porquê ter um gato nestas condições? Um filho é um filho, mas não é necessário aturar isto de um animal “inferior” (lá estão as aspas). Porque um gato é fixe. Um gato dorme entre 13 e 18 horas a dormir, e passa cerca de 70% desse tempo a assear-se. Qualquer gato cheira melhor que qualquer cão, baba-se menos, manda menos coisas abaixo. Ver um gato a caminhar por um tabuleiro de xadrez sem derrubar uma peça é algo de se ver, e ele não faz isso por respeito aos jogadores. É mesmo porque se está a cagar.

Em termos de beleza, bem, isso é altamente debatível. Ou não. Para mim, qualquer gato é mais bonito que qualquer cão. Mais bonito, mais elegante, mais perfeito. Como sabemos, todos os cães derivam do mesmo antepassado, o lobo. E todas as diferenças entre as milhares de raças caninas que há foram feitas pelo homem. Os gatos, por serem difíceis de domesticar, são muito mais próximos do “selvagem” que os cães. E, quanto ao sentido estético do Homem, ou da Mãe Natureza, acho que não há discussão possível.
O cão mais feio do mundo, que parece um cagalhão com pelos. Se falasse, diria "Matem-me, por favor".

O gato mais feio do mundo. Reparai como não perde o seu porte felino.

Os cães babam-se e cospem, partem merdas, comem sandálias e parachoques, mordem transeuntes e inocentes. Mijam e cagam em todo o lado, preferencialmente carpetes e sofás. Os gatos não. Na pior das hipóteses, os gatos esgadanham as ombreiras das portas, e nós só nos podemos sentir gratos por não serem as nossas canelas.

E agora, a semântica. A diferença antropomórfica entre gatos e cães. Comparem a conotação de chamar a um homem um “gato” ou um “cão”. Se um homem chamar “gato” a outro homem, é provável que seja rabeta. Se chamar a outro “cão”, é provavel que seja durante a sueca. Se um homem chamar “gata” a uma mulher, é um galanteador à antiga, nenhuma mulher ficará ofendida. Agora, chamando “cadela” a uma mulher (ou em inglês, “bitch”), a conclusão é fácil de tirar.

Finalmente, a natureza do bicho em si. Qual é a melhor versão possível de cada animal? A melhor versão de um cão será provavelmente o lobo, canis lupus, o seu ancestral. Animal feroz, sem dúvida, que foge quando vê humanos, que só caça em matilha. É parecido com um Huskie, pesará no máximo uns 40 Kg.

E qual a versão mais aumentada de um gato doméstico?

Tigre da Bengala.

Cerca de 3 metros de comprimento, 220 Kg de músculos e extremidades afiadas. Não foge dos humanos, mas incorpora-os na sua dieta. Juntamente com carne de lobo.

Bem, e é isto. Não duvido que, depois de alguém ler isto, que continue a gostar mais de cães, mas agora já saberá a razão: são pessoas carentes que precisam de se sentir superiores a outro ser vivo. Porque a inefável verdade é só esta:

Os gatos rulam.


6 de julho de 2011

Squirting - O Mito



A palavra “squirting” não tem tradução para português. Aliás, até tem:


Agora, uma pesquisa rápida por sites salobros mostra uma coisa completamente diferente, na sua vertente semântica.
“Squirting” é uma mulher mijar durante o sexo. Antes, durante ou depois, seja a solo ou em dueto ou em grupo, se uma mulher se mijar, de preferência em “esguicho” como os homens, ela squirta.

Ora, porque é que isto me interessa ao ponto de eu escrever sobre o squirting? Porque é polémico. A definição de “squirting é uma mulher mijar durante o sexo” é minha. É mais ou menos como uma opinião, da mesma forma que “não existem fantasmas”, “o homem foi à lua sim senhor”, ou “não há OVNIS” é uma opinião. Então, porque é que é polémico? Porque ainda existe uma facção muito forte de feminismo sexual. E estes são os argumentos: as mulheres, mais que os homens, acreditam que o corpo feminino é um templo, é mistério e sempre o será, e se alguma se mijar durante o coito, é porque existe uma razão para isso, mais do que incontinência urinária. E os homens também não ajudam, pois algumas das suas fantasias incluem ter uma mulher a mijar-lhes em cima. E que se isso acontecer, ele fez um bom trabalho.

Agora, a verdade que nenhum estudo conclusivo consta dos anais da história. Ou dos vaginais, neste caso. Daí que a polémica continua. E, dado o gosto particular que a equipa do Zooping tem por chacinar polémicas, aqui vai a conclusão. Para isso, nada melhor que cagar nos estudos e usar algo que vai rareando hoje em dia, algo chamado “bom senso”. Aqui vão os factos:

Uma franja substancial de filmes pornográficos usa o “squirting” como argumento de vendas. Principalmente com a actriz a solo, sendo mesmo o squirting quase o equivalente ao “money shot” ou “cum shot” masculino”.


Foram realizados realmente vários estudos para debater este assunto, nenhum conclusivo. Uns provam a existência de umas “glândulas de Skene”, semelhantes aos tecidos prostáticos masculinos, que são supostamente a origem do suposto esguicho. Mas são demasiado pequenas para as quantidades absurdas que são documentadas. Nem existe nenhum sítio onde esse fluido coubesse na vizinhança, tirando a bexiga.

Nenhum estudo mostra categoricamente a diferença entre o “ejaculado” e o mijo.

Nenhum estudo chega perto para descrever alguma função para este fenómeno (lubrificação não será, senão aconteceria antes do coito e não durante o orgasmo).

E chega de factos. Vamos aos esclarecimentos, e para isso usar uma ferramenta científica muito útil, a lex parsimoniae, mais conhecida como a Lâmina de Occam. Que diz: entre duas explicações para o mesmo fenómeno, normalmente a mais simples é a acertada.

Vamos começar então:

Hipótese 1 - Será que algumas mulheres se “vêm” como os homens no clímax? E emitem um fluído em tudo igual ao mijo, provindo de um sítio obscuro que ainda ninguém descobriu, para realizar uma função que ninguém conhece?

Hipótese 2 - Será que algumas mulheres se mijam durante a cópula?

Deixo ao leitor.
Mas se é assim tão simples, porquê a polémica? E esta é a minha hipótese.
É uma fraude mitológica inventada pelas mulheres para, afinal, fazer o que elas gostam mais, que é de lançar a polémica. Se eu sou uma mulher, e me mijo todinha durante a cópula, em que é que eu quero que o meu companheiro acredite? Que me explodi toda que nem uma Amazona com cio, e que ele é o maior; ou que não tenho grande controlo sobre o esfíncter? Poder-se-á argumentar que “se fosse mijo cheirava a mijo”. E eu rebato com: eu consigo, com a quantidade certa de cerveja, fazer com que o meu mijo seja indistinguível da água. E o que é engraçado, hélas, é que é precisamente nessas alturas que o controlo do meu esfíncter está diminuído!

Longe de debater o sexo dos anjos, este é um assunto que pode ser resolvido, usando unicamente o bom senso. O “squirting” existe, sim, mas é mijo. E muito boa alma masculina vai caindo na cantiga, enquanto elas se divertem.


17 de junho de 2011

"Crise" dos pepinos.

Se me pedissem para escolher, com uma arma apontada à cabeça (ou se calhar nem seria preciso), um qualquer alimento que fosse votado ao opóbrio, injectado de calúnias e desconfiança e contaminado com uma bactéria mortífera, nem piscaria os olhos: o pepino.
O ódio que devoto ao pepino é tão entranhado em mim que quase se estende às pessoas que gostam de pepino.
O pepino é uma espinha na minha dieta, eu que me orgulho de comer de tudo, embora goste mais de umas coisas que doutras. Tolero bem favas, arroz de ervilhas, pescada cozida, esparregado, coisas que não comia quando era miúdo, mas agora consigo até gostar se estiverem bem confeccionadas.

Agora pepino... nem consigo comer salada que tenha pepino. Nem que o afaste. O cheiro dá-me náuseas. Até me custa comer numa mesa que tenha pepino em cima, por mais segregado que esteja.

Odeio pepino, e tenho um gáudio secreto que esteja contaminado com E. coli. Tenho pena dos produtores nacionais, claro, mas por outro lado, eles que se pusessem a crescer comida a sério e não um vegetal que, ao contrário das cenouras, bananas e beringelas, parece que começou a carreira como brinquedo sexual e só depois se lembraram do seu valor nutricional.

Não tenho palavras para descrever o quanto eu abomino pepino, e quanto estranho haver gente que gosta dele. Posso dizer que, num caso extremo de queda de um avião nos Andes, em que só há pepinos ou o recurso ao canibalismo, posso dizer que aí talvez comesse uma fatia de pepino, mas teria logo de comer uma orelha ou uma nádega de um cadáver para tirar o gosto da boca.

Até o nome é horrível. “Pepino”. Lembra mesmo um fruto, ou vegetal (para sermos precisos: cucurbitáceos) que passa do estado “verde” para “podre” sem passar pelo estado “maduro”. Em inglês é ainda pior, “cucumber”. As duas primeiras sílabas insistem mesmo no orifício onde se pode enfiar o diabo do cucurbitáceo, onde só pode saber melhor do que se fosse pela boca.

Vou, no entanto, admitir que existe uma forma de comer pepino que não desgosto. Apenas porque só muito recentemente soube que se tratavam realmente de pepinos, ou mais precisamente, dum parente muito próximo. Chamam-se “cornichons”, ou pepinos bebés em conserva. Os da Ferbar são os melhores, a acompanham muito bem qualquer prato com queijo, como Raclettes.

Reparai que o meu ódio aos pepinos é profundo e indelével. E que a única maneira de eu os comer é se colherem pepinos bebés e os votarem a uma morte agonizante por afogamento em ácido acético. E depois são colocados aos montes em jarros de vidro e expostos nos supermercados para toda a gente ver. Como sinistros embriões conservados em formol numa casa dos horrores.

Eu estimo bem que os pepinos se fodam todos, que entrem em vias de extinção. Ou que se extingam mesmo.

Morte aos pepinos.


30 de maio de 2011

O Portal da Sé



Parece-me que chegou a altura de pôr fim a um logro que se vem propagado há demasiado tempo. Por vezes, a verdade manifesta-se mesmo em frente aos nossos olhos, ao ponto de ferir, mas por razões de conveniência, e mesmo preguiça, recusamo-nos a aceitá-la. Por isso, sem qualquer outra razão que pôr o dedo na ferida nos poderes instituidos, vou desmascarar uma das maiores conspirações de Viseu, e talvez do planeta.

Existe uma casa de banho pública na zona velha de Viseu, mais precisamente na Praça D. Duarte. Nada há de especial com essa casa de banho, talvez apenas para os olhares mais atentos ela pareça um pouco mais evoluída do que seria de esperar de uma casa de banho pública. Tem um botão de entrada que tranca a porta por dentro, é completamente forrada a alumínio. Tudo funciona, até tem papel higiénico. E no entanto, algo nela é anacrónico o suficiente para nunca ser utilizado para esse fim, uma vez que todos os transeuntes urinam na sombra que ela faz do candeeiro da rua.

Porquê?

Porque não se trata de uma casa de banho, mas sim de um portal de passagem para outro planeta. Para um planeta em Vega na constelação de Lira, mais precisamente. Digamos que se trata de uma alfândega, ou de uma portagem sem portageiro, uma vez que a palavra original não tem tradução para o português. Ou para qualquer língua da Terra, para esse efeito.
Vou explicar o como e o porquê.
O “como” não é fácil. Como devemos calcular, a quantidade de energia necessária para tornar as viagens interplanetárias possíveis é muito elevada. Daí que essa fonte de energia terá de respeitar vários critérios: terá de ser estável, fácil de armazenar, e que tenha valores de produção colossais. Numa situação destas, em que se tenta camuflar eset segredo o mais possível, esta fonte de energia necessita ainda de outra qualidade: terá de ser o mais discreta possível. Colocar três centrais nucleares de fase II (o equivalente energético) no centro de Viseu daria muito nas vistas.
Obviamente, os promenores técnicos não são de origem terrestre, mas sim Vegana. Atenção que quando digo Vegana, digo os naturais de Vega, não os intelectuais que prescidiram de comer qualquer animal passível de ser uma personagem de desenhos animados. Ora, e os Veganos aplicaram aqui, na Terra, a tecnologia que já é sobejamente conhecida por toda a galáxia: colher a energia electromagnética produzida pelo enorme núcleo de ferro líquido no centro da Terra.

O que é necessário para isso? Como é óbvio, um meio de colher e armazenar essa energia. Por exemplo, com enormes vigas de cobre que se estendam desde a superfície da Terra até vários quilómetros de profundidade, cuidadosamente alinhadas para aproveitar o efeito sinérgico de ressonância electrónica.

Conforme figura anexa. Muita gente, quando viu aquelas fálicas ogivas a protuberar ao lado da Rua do Comércio, suspeitou imediatamente que a sua função seria de impedir os carros de estacionar no passeio, ou, mais ridículo ainda, aproveitar a energia dos relâmpagos para vender electricidade à rede. Nada mais falso. Aquelas glandes de cobre(que, de novo, não têm tradução nas nossas línguas) são tão-só e apenas a ponta visível de varas de cobre com centenas de quilómetros de comprimento cujo objectivo é colher a energia necessária para o portal funcionar.

Certo, e o sistema de orientação? Como poderemos garantir que a máquina nos leva mesmo para Vega e não nos deixa à deriva no meio do espaço intergaláctico, para morrer uma morte agoniante de embolia e ebulição dos nossos fluidos? É necessário um sistema de orientação fiável. Terá de ser grande.
E há anos que os Veganos sabem que a infrastutura necessária será um cone octogonal com cerca de dezoito quilómetros de altura e um diâmetro na base de exactamente 650 metros. Não precisa de ser oco, conquanto seja construído com determinados materais, muitos deles impossíveis de fabricar na Terra.

Mais de perto?

Precisamente. A cava de Viriato, ao contrário do Forte do nosso General Pastor, é um enorme cone subterrado do qual só a primeira dúzia de metros é visível à superfície. Tem uma forma de um cone de grafonola, cujo objectivo é detectar e amplificar as ondas electromagnéticas provenientes de Vega, transmitir esses dados ao Portal, e permitir que o viajante chegue ao seu destino com uma margem de erro que se mede em mícrons.

A engenharia já está, falta a teoria. Afinal, Vega situa-se a 25 anos-luz do nosso planeta. Como é possível viajar até lá sem violar a teoria de relatividade de Einstein? E é este mesmo que nos dá a resposta (embora o Veganos já o saibam há éons): através de uma variante da ponte de Einstein-Rosen. O que nós chamamos Teoria Heterótica Tipo II das Supercordas, com duas Supersimetrias nas 10 dimensões e conservação da paridade, os Veganos chamam Verdade. Ou um equivalente da verdade, na língua deles.

Na prática, a energia utilizada para colocar o Portal em funcionamento serve unicamente para dobrar o tecido do espaço tempo, através das Branas de Calabi-Yau, formando um buraco de verme de Schwarzschild. Assim, sem rupturas espacio-temporais e sem enjôos, somos virtualmente transportados para Vega de forma instantânea.
Um Buraco de Verme de Schwarzschild

E o porquê?

Vega é o centro nevrálgico da nossa Galáxia. E está mesmo aqui ao lado, se olharmos em perspectiva. E devia ser uma honra para Viseu e os Viseenses que o único ponto de passagem para essa estrela, em todo o planeta Terra, seja em Viseu. É como se todo o nosso planeta fosse uma ilha latejante de vida e cultura, mas com um istmo frágil e fino que nos liga ao continente, ou neste caso, ao espaço sideral. Nunca fiz essa viagem, mas os relatos que há (muitos poucos) falam de uma experiência sem qualquer tipo de qualificação ou relato, pela falta de referências. Falam em vida, de uma vida tão variada e estranha que tornaria um Unicórnio tão banal como um rato ou uma barata. Há como que flores e árvores, e insectos e outros animais, e nenhum deles é remotamente parecido com os análogos terráqueos. E há música, e luz, e vento, e cheiros, e nada disto pode ser descrito na nossa língua. Posso-vos garantir que tudo isto é verdade, e já mostrei as provas suficientes. A todos vós que queiram tentar a vossa sorte, venham ao Portal da praça D. Duarte. Eu não sei como é que o Portal funciona, só lá fui uma vez e foi para mijar.


6 de maio de 2011

Pornografia e Fado - Uma Tese.

E a tese é esta. As actrizes pornográficas têm nome de fadistas e vice-versa. E o actores também.
O próprio Fado também se presta a insinuações do género, uma simples troca das vogais e estamos no buzílis. Mas os representantes, intencionalmente ou não, partilham a mesma inclinação onomástica, e vou prová-lo.

Ana Monte Real
Maria Ana Bonone
Luana
Mariza
Melisa
Ângelo Ferro
Camané
Master Driller

Quais destes são fadistas, e quais os fodistas? Na verdade, é difícil sabê-lo pelos nomes.
Vamos a alguns exemplos:

António Pinto Basto

Tem Pinto no nome, e tem Basto. E, se fosse actor porno, seria o inimigo final, aquele que é o dono da casa da praia e que quando chegava a casa e via o jardineiro a montar a mulher a dias, arriava no jardineiro e na mulher a dias indiscriminadamente.

Kátia Guerreiro

Chama-se Kátia com Kapa.

Ana Monte Real

Fadista em ascenção, tendo granjeado grande respeito na comunidade lusófona nos países de leste, e ganho o primeiro prémio no concurso... não, esta é mesmo actriz porno.

Alfredo Marceneiro

O Alfredo, ícone luminoso do fado português e além-mar, tem nome de um actor porno que já passou o seu pico, e agora é chamado para fazer filmes de género mais underground. Ainda muito aclamado pela crítica séria, tem sido um pouco negligenciado pelas camadas jovens. E no entanto, quando é necessário vestir alguém de cabedal, colocar-lhe uma bola de bilhar na boca e virar cera derretida nos mamilos, chama-se o Alfredo, o Marceneiro.

Erica Fontes

Podia ser perfeitamente a vencedora de um Ídolos na América, e uma promotora do Fado no Novo Mundo. Mas não, é actriz porno.

Maria Ana Bobone

Chama-se Bobone, e em vez de aproveitar a alcunha e aquele palminho de cara para ingressar bem dentro das fantasias de adolescentes oleosos e divorciados de meia idade, dedicou-se ao fado. A perda de muitos é a benção de alguns.

Mariza

Tal como no fado, se Mariza fosse uma actriz porno, seria a mais bem paga. Tem todo o charme de uma actriz de lista A, com cláusulas exigentes quanto a cachês e co-protagonistas. Por exemplo, Alfredo Marceneiro nunca.

Poderão lembrar-me de que me estou a esquecer do símbolo maior do fado em Portugal, Amália Rodrigues. Mas não quero ofender a sua memória. Basta sugerir que, se houvesse uma actriz porno chamada Amália, os trocadilhos marotos utilizados para os títulos dos filmes teriam um filão sem fundo: Amália Vai Chupália, Amália Vem Mamália, Amália Vai À Somália.

E, finalmente, como corolário demonstrativo desta tese, temos este belo chuchu:

Cuca Roseta

Aquele ar de Pocahontas sabidona, os olhos e cabelos negros, os lábios grossos e o piercing no nariz, parece que faz de propósito. E, como qualquer gloriosa Mulher (e actrizes porno), tem uma Cuca, e tem uma Roseta. E qual delas a melhor.

A este ponto, a conclusão é óbvia.


19 de fevereiro de 2011

O Copianço. Para Totós.



Chega a altura dos exames, e do Zooping fazer um serviço público.
Sim, eu copiei muito na minha altura. Julgo que poucos exames houve em que eu não tivesse feito copianço, pese embora não o ter utilizado em todas as ocasiões. Daí a primeira regra do copianço,

1 - Fazer sempre copianço.

Fazer copianço ajuda a estudar, pela simples acção de o fazer. É necessário tornar a matéria numa síntese, condensar a matéria em símbolos e palavras chave.

Copiei, e copiei muito, não porque fosse preguiçoso a estudar (porque era), mas porque nada eu via de imoral nessa atitude. No mundo profissional, supostamente o mundo para o qual a escola e a universidade nos prepara, não premeia a boa memória, mas sim o engenho e a criatividade. Outros países há que penalizam o acto de copiar com a sanção suprema, a suspensão e o opóbrio. Em Portugal nem por isso. No entanto, é sempre chato ser-se apanhado, e as próximas regras vêm prevenir isso mesmo.

2 - Manter sempre a calma.

Vem em segundo lugar, mas é a primeira em importância. Os professores, tal como os cães, as abelhas e os ciganos, cheiram o medo. Ao verem um aluno mais circunspecto, desconfiado e nervoso, inquieto e a olhar para todo o lado, viram para lá o radar como um leão a uma gazela isolada. Manter a calma é fundamental. O facto de ser um exame, e todos os alunos estarem à partida nervosos, joga a vosso favor. Por isso é necessário arranjar um compromisso entre nervosismo incontrolável e calma estóica.

3 - Sentar-se num lugar à frente.

Mas não na primeira fila. Este é um erro clássico, todos os copiadores crónicos têm tendência para se sentar nos lugares mais afastados dos professores. Estes não são burros. Sabem para onde eles vão, para os lugares mais à sombra, mais escondidos, com maior densidade de alunos. E é precisamente para lá que eles dirigem os olhares.

Menosprezem o lugar onde se sentam, sentem-se onde o professor manda, o lugar não tem qualquer interesse. Existe apenas uma vantagem ligeira em sentar-se à frente, que é tendencialmente o local onde os melhores alunos se sentam. Mas na segunda fila, pois a logística de se copiar implica um risco muitíssimo majorado se estiverem na fila da frente. Mas mesmo assim, não é intransponível. Idealmente, evitem sentar-se directamente à frente do professor (visão foveal) ou completamente ao lado (visão periférica). O ideal, sempre que possível, é sentarmo-nos na zona perto dos 15º da visão directa do professora, onde existe o ponto cego.


4 - Nunca começar a copiar no primeiro quarto de hora.

Os primeiros momentos de um exame são fundamentais. É o momento de tensão comum a todos os alunos, e a altura em que o olhar prescrutador dos examinadores está mais alerta. Procuram quem está nos lugares mais atrás, se há alunos demasiado perto uns dos outro, se estão a conversar, se estão a transpirar.
As primeiras pessoas que os professores vão descartar como honestas e trabalhadoras (se as houver) são as que fazem pouco barulho, cumprimentam os professores (muito importante) têm ansiedade para começar, e cumprem o ritual de exame com eficiência, rapidez e confiança. Ritual este que é: desligar o telemóvel (deve ser feito ostensivamente) e arrumá-lo. Colocar em cima da mesa o estritamente necessário, caneta e máquina de calcular se for o caso. Um ligeiro espreguiçar e estalar de dedos, uma inspiração profunda, e um olhar que denota pressa para começar o exame como se se percebesse alguma merda do que lá vinha.

Só passado cerca de um quarto de hora se instaura a calma bendita e necessária para se começar a copiar com toda a confiança.

5 - Nunca ter pressa para acabar.

Naqueles dias ideais, em que o exame corresponde quase literalmente ao copianço que elaborámos no dia anterior, parece que é demasiado bom para ser verdade. E acaba-se o exame em meia hora. E é aqui que os copiadores, mesmo os mais astutos, podem cometer erros. É fundamental ficar na sala de exame até acabar, ou quase, e entregar a folha ao professor sem um sorriso de óbvio optimismo estampado na cara. E como é óbvio, cumprimentar o professor antes de sair, porventura largar uma tirada para aliviar a tensão (“Veja lá se me dá uma boa nota, professor!” é um clássico inocente).

6 - Pedir para tirar dúvidas.

Condição obrigatória. Em todos os exames que copiei, pedi para tirar dúvidas com o professor. De preferência nos primeiros momentos do exame. E obrigatoriamente dúvidas com o mínimo de pertinência (“Professor, quanto dá esta conta? Não trouxe máquina.” A conta era 2500 a dividir por 100, é trata-se de uma história verídica).
Ao pedir para esclarecer uma dúvida, matamos dois coelhos com uma cajadada. O professor considera-nos um aluno honesto e aplicado, e também nos exclui inconscientemente dos alunos que precisam de maior vigilância.

7 - O melhor esconderijo é à vista de todos.

Muitas pessoas tenho eu visto que fazem esforços elaboradíssimos para esconder o copianço. Nas meias, nas cuecas, no compartimento das pilhas da máquina de calcular, enrolado dentro da caneta. Esforços espúrios, sintoma de nervosismo que pode deitar tudo a perder.
Existem dois sítios para levar o copianço, sítios necessários e suficientes para se copiar com toda a segurança:
7.1 - Na manga da camisa/camisola.

Nada mais simples. Passado o quarto de hora da morte, com calma e confiança saca-se do copianço da manga do braço oposto ao qual se escreve. E coloca-se esse copianço por baixo das folhas de exame. Este é o sítio ideal para se copiar, um simples e inocente virar de páginas do exame concede-nos acesso a toda a informação que trouxemos de casa.

7.2 - No bolso de trás das calças.

Quando o copianço na manga é inconcretizável (quando, por exemplo, estamos a ser vigiados por trás e não pela frente), é altura do plano B. Não tão acessível como na manga, este é um pouco mais elaborado. Trata-se de levar o copianço no bolso de trás das calças, e passado o tal quarto de hora da morte, começar a actuação. Simular uma comichão no rabo, tirar o copianço e colocá-lo por baixo deste. Esperar um pouco. Ver se a costa está livre. Mas a comichão não passou, agora está na púbis. Por isso, simular que se coça as partes baixas (a rata ou os tomates) e passar o copianço para o meio das pernas. Mas atenção! Ao consultar o copianço aí colocado, é necessário apoiar a cabeça na mão com o cotovelo apoiado na mão, numa posse pensativa, de modo a esconder o nosso olhar dos professores.

8 - Fazer o follow-trough.

O processo de começar a copiar num exame é em tudo simétrico ao de desmontar a operação, embora mais fácil. O mesmo cuidado que se tem a começar a copiar deve ser aplicado ao acabar. Não deixar pontas soltas, recolher todas as provas do crime, e nunca nos desfazermos delas num raio de 100 metros do local do exame.

E finalmente,

9 - K.I.S.S

Keep It Simple, Stupid!


Eficácia: 6
Exequibilidade: 10
Probabilidade de não ser apanhado: 2


Eficácia: 3
Exequibilidade: 2
Probabilidade de não ser apanhado: 10


Eficácia: 7
Exequibilidade: 9
Probabilidade de não ser apanhado: 2


Eficácia: 8
Exequibilidade: 7
Probabilidade de não ser apanhado: 5

Eficácia: 4
Exequibilidade: 3
Probabilidade de não ser apanhado: 6
Criatividade: 200


Eficácia: 10
Exequibilidade: 0
Probabilidade de não ser apanhado: 10


Espero que vos tenha sido útil.
Boa sorte!

5 de fevereiro de 2011

No Way.



Uma rapariga que eu conheço disse-me que tinha uma excelente proposta para mim. Excelentes propostas, hoje em dia, é algo que me faz virar a cabeça. Depois de meia hora de conversa, fiquei no entanto sem saber do que é que se tratava. Uma empresa sediada no Porto, de organização de eventos e de coaching, seja lá o que isso fôr. Nomes sonantes (não conhecia nenhum), um deles foi mesmo o personal coach do José Mourinho. Ou isso ou o gajo que ensinou o Schumacher a conduzir ou o Federer a jogar ténis, não me lembro bem. Durante essa meia hora, essa rapariga deflectia as minhas invectivas de saber o nome da empresa com um “aparece no Domingo às 14:30 que vêm as pessoas mais indicadas para te explicar”.
Depois de muito batalhar (até porque pairava um suave aroma a esturro no ar), lá me disse o nome da empresa: New Way.

New Way.

Abençoado Google.

24 de janeiro de 2011

Vai Billy!



Há que conhecer o meu target. Se quero que este blog seja bem sucedido, há que respeitar a vontade democrática daqueles que me lêem, porque sois vós que dão o sentido da existência destas letras.
Descobri há pouco tempo uma ferramenta que me permite saber quantas pessoas vêem o meu blog, de onde provêm, quais os posts mais populares e, melhor que tudo, quais as palavras que escrevem no Google que vêm dar ao Zooping.

E aqui vai então:



Não é preciso fazer a regressão linear para se notar aqui uma tendência. Este é o meu leitor alvo, aquele para quem eu me dirigo quando verto no teclado estas palavras.
E não vos quero defraudar, meus amigos.
Por isso aqui vai!


Estou a olhar para uma porta partida
Já cá não há mais nada
O meu quarto está frio
Está-me a deixar maluco.

Estive aqui à espera tanto tempo
Mas agora parece que o momento chegou
Vejo as nuvens negras a voltar outra vez.

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
Através da monção
Só eu e tu.

Uma meia lua a desaparecer da minha vista
Vejo a visão na sua luz
Mas agora desapareceu e deixou-me tão sozinho
Eu sei que tenho de te encontrar
Ouço o teu nome e não sei como
Porque é que não conseguimos fazer desta escuridão o nosso lar?

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
E nada me pode separar de ti
Através da monção.

Ei! Ei!

Estou a lutar todo este poder
Que vem para mim
Que me leve até ti
Correrei noite e dia
Estarei contigo em breve
Só eu e tu
Lá estaremos em breve
Tão breve.

Correndo pela monção
Para lá do mundo
Até ao fim do tempo
Onde a chuva não dói
Lutando com a tempestade
Para dentro do azul
E quando me perder vou pensar em ti
Juntos vamos correr para um sítio novo
E nada me pode separar de ti
Através da monção.

Através da monção
Só eu e tu
Através da monção
Só eu e tu.

Maurício, II

Era necessário pôr ordem na casa. Fazer o check de todos os sistemas, como na NASA antes de um vôo. Era preciso aquecer os reactores, verificar a ausência de fugas, colocar lentamente todo o sistema em operação. Ia demorar, Maurício sabia-o. A sua boca ainda estava forrada de um estranho miasma de sabor ocre, o nariz entupido, os olhos lentos e inchados por baixo das pálpebras. Mas primeiro, saber onde estava. Sabia que não estava em casa, pois em sua casa, no lugar das persianas que não funcionavam, estava um poster do Iggy Pop que assumia contornos fantasmagóricos quando iluminado pela luz da rua.
Enquanto pensava precisamente onde estava, apercebeu-se com espanto (mas sem medo) que não estava sozinho. Ouviu um suave estertor vindo de muito perto, de ao lado dele. Virou-se a custo para a fonte do barulho, e era uma mulher, mas não sabia quem era. Raciocinou o suficiente para tirar a ilação de que, se estava ali uma mulher, estava por sua livre vontade. Com muita calma então, encostou-se mais um pouco a ela para, pelo menos, a identificar. Colocou-se em concha por trás, e ainda de olhos fechados (não serviriam de nada de qualquer maneira) passou-se calmamente a mão desde o ombro até à anca. Descobriu com agrado que era uma fêmea exemplar, tonificada e de pele suave, com uma camadinha apenas de gordura, mas firme, como um tapete de rato. Cheirava bem também, a animal quente, a mamífero pequeno depois de hibernar. O resto do quarto, no entanto (se é que se tratava de um quarto) exibia toda uma panóplia de cheiros agridoces e aromas, a roupa molhada, a meias sujas, a mosto pisado, a destilaria abandonada. Ora, uma boa maneira de despoletar a memória, de saber onde estava, era saber com quem estava. O latejar da cabeça de Maurício continuava impiedoso, mas pelo menos agora era constante e monótono. À medida que Maurício continuava a apalpar terreno, passando as mãos pela pele da sua companheira, fazendo um agradável som de lixa de água a passar numa madeira nobre, a mulher voltou a mostrar sinais de vida. Murmurou um “hum” lento e rouco, e um barulho com a boca como se estivesse a comer. O barulho que fez sugeriu que, como Maurício, teria também a boca revestida de um pernicioso miasma, de saliva viscosa. Mexeu as mãos, e inconscientemente levou a mão direita ao meio das pernas de Maurício. Ao tocar no seu membro entumescido, afastou a mão quase de repente, como um pequeno susto, mas voltou a colocá-la no mesmo sítio com cuidado e reverência. “Publicidade enganosa, amiga”, apeteceu a Maurício dizer. Era um pretexto como qualquer outro, para Maurício se levantar, dirigir à casa de banho e, com sorte, tentar tirar algum sentido de tudo aquilo. Vamos a isso então, pensou Maurício, enquanto fazia um colossal esforço para se sentar na borda da cama. Sorveu as últimas gotas da garrafa de água e esfregou os olhos. Apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, e voltou a incógnita. Mas onde diabo é que estou? Como é que vim aqui parar? Quem é esta aqui ao lado? Maurício tinha quase uma alegria infantil, de jogar às escondidas ou ao quarto escuro, ou de uma criança a abrir uma prenda de Natal. Mistérios destes, tão básicos, são já muito raros numa pessoa de 27 anos.
Uma pequena luz azul que piscou, fugaz, que Maurício vislumbrou pelo canto do olho, indicou-lhe a vaga localização do seu telemóvel. Caminhou cautelosamente pela penumbra do quarto para o resgatar. Estava no chão. Eram nove da noite.

17 de janeiro de 2011

Maurício


Quando Maurício deu conta de si (acordou?), não se mexeu durante muito tempo. Uma eternidade, pareceu-lhe. Não sabia de estava a dormir de olhos abertos, ou acordado de olhos fechados, ou ambos. Já lhe aconteceu mais que uma vez, em cirtcunstâncias semelhantes, lembrar-se de um episódio do MacGuyver em que este tinha de desarmar uma bomba feita por um miúdo com problemas, filho do seu antigo professor de Física. Esta bomba tinha um mecanismo que a impedia de ser transportada com facilidade: tinha um pequeno prato de vidro, rodeado de pontas de fios de metal, e com uma pequena porção de mercúrio no meio. Se a bomba fosse transportada, ou sofresse um pequeno embate, a gota de mercúrio tocaria nas bordas do prato de vidro, e consequentemente nos fios de metal, completando o circuito e detonando-a.
E porque é que Maurício se lembrava desse episódio do MacGuyver em particular? Em primeiro lugar, porque era um fã. E depois, porque a sua condição o fazia lembrar dessa bomba e do seu mecanismo de detonação. Na verdade, a sua cabeça lembrava-lhe o mecanismo. O seu cérebro lembrava-o de uma gema enorme de mercúrio, precariamente guardada dentro do seu crânio. E qualquer movimento que fizesse, que vencesse a inércia na gema de mercúrio, esta entrava em contacto com a parede interna do crânio. E não despoletava nenhuma bomba (era a diferença para a bomba do MacGuyver), mas despoletava sim uma sequência de eventos horríveis, como uma dor latejante e excruciante na cabeça, os globos oculares a querer sair ritmicamente das órbitas, como se o coração partilhasse o mesmo espaço que o cérebro. E uma dor difusa por todo o corpo, não tão excruciante, mas uma moleza gripal, como se tivesse levado uma malha no dia anterior.
E Maurício tinha de se mexer, para não ganhar escaras. A luz que vinha lá de fora, entre as frestas da persiana, não era suficiente para descortinar que horas seriam, ou se seria de manhã ou à tarde ou mesmo à noite.
Aliás... Maurício nem sequer sabia onde estava. Tudo lhe era alheio. A cama, a almofada, os cheiros. não sabia onde era a porta. Sabia onde era a janela, apenas porque conseguia ver os risquinhos de luz azulada que a persiana permitia entrar. Parecia um texto em código Morse, só com ssss.
Normalmente, nestas alturas, as memórias começavam a vir a conta-gotas, mas desta vez não. Inconscientemente, e com esforço, levou o braço ao chão e apalpou até encontrar uma garrafa de plástico meia cheia. O instinto disse-lhe que lá estaria (talvez lá tivesse ido durante a noite, ou aliás durante o tempo em que esteve a dormir.
Bebeu, era água um pouco tépida. Bebeu pouco, pois a maior parte da água era absorvida pelas mucosas. A sua língua sentia-se quebradiça contra um palato feito de cera, e agora absorvia água egoisticamente como uma esponja. Bebeu o resto da garrafa, e depois voltou a deitar-se com esforço, fazendo o som de um bidão meio cheio.
Mas afinal o que é que se passou?

Em Maurício Não Sabe de Si, por Maurício Leal.


5 de janeiro de 2011

Morre, vaca!

Dona Celina passou a gostar mais de cães.

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