19 de fevereiro de 2011

O Copianço. Para Totós.



Chega a altura dos exames, e do Zooping fazer um serviço público.
Sim, eu copiei muito na minha altura. Julgo que poucos exames houve em que eu não tivesse feito copianço, pese embora não o ter utilizado em todas as ocasiões. Daí a primeira regra do copianço,

1 - Fazer sempre copianço.

Fazer copianço ajuda a estudar, pela simples acção de o fazer. É necessário tornar a matéria numa síntese, condensar a matéria em símbolos e palavras chave.

Copiei, e copiei muito, não porque fosse preguiçoso a estudar (porque era), mas porque nada eu via de imoral nessa atitude. No mundo profissional, supostamente o mundo para o qual a escola e a universidade nos prepara, não premeia a boa memória, mas sim o engenho e a criatividade. Outros países há que penalizam o acto de copiar com a sanção suprema, a suspensão e o opóbrio. Em Portugal nem por isso. No entanto, é sempre chato ser-se apanhado, e as próximas regras vêm prevenir isso mesmo.

2 - Manter sempre a calma.

Vem em segundo lugar, mas é a primeira em importância. Os professores, tal como os cães, as abelhas e os ciganos, cheiram o medo. Ao verem um aluno mais circunspecto, desconfiado e nervoso, inquieto e a olhar para todo o lado, viram para lá o radar como um leão a uma gazela isolada. Manter a calma é fundamental. O facto de ser um exame, e todos os alunos estarem à partida nervosos, joga a vosso favor. Por isso é necessário arranjar um compromisso entre nervosismo incontrolável e calma estóica.

3 - Sentar-se num lugar à frente.

Mas não na primeira fila. Este é um erro clássico, todos os copiadores crónicos têm tendência para se sentar nos lugares mais afastados dos professores. Estes não são burros. Sabem para onde eles vão, para os lugares mais à sombra, mais escondidos, com maior densidade de alunos. E é precisamente para lá que eles dirigem os olhares.

Menosprezem o lugar onde se sentam, sentem-se onde o professor manda, o lugar não tem qualquer interesse. Existe apenas uma vantagem ligeira em sentar-se à frente, que é tendencialmente o local onde os melhores alunos se sentam. Mas na segunda fila, pois a logística de se copiar implica um risco muitíssimo majorado se estiverem na fila da frente. Mas mesmo assim, não é intransponível. Idealmente, evitem sentar-se directamente à frente do professor (visão foveal) ou completamente ao lado (visão periférica). O ideal, sempre que possível, é sentarmo-nos na zona perto dos 15º da visão directa do professora, onde existe o ponto cego.


4 - Nunca começar a copiar no primeiro quarto de hora.

Os primeiros momentos de um exame são fundamentais. É o momento de tensão comum a todos os alunos, e a altura em que o olhar prescrutador dos examinadores está mais alerta. Procuram quem está nos lugares mais atrás, se há alunos demasiado perto uns dos outro, se estão a conversar, se estão a transpirar.
As primeiras pessoas que os professores vão descartar como honestas e trabalhadoras (se as houver) são as que fazem pouco barulho, cumprimentam os professores (muito importante) têm ansiedade para começar, e cumprem o ritual de exame com eficiência, rapidez e confiança. Ritual este que é: desligar o telemóvel (deve ser feito ostensivamente) e arrumá-lo. Colocar em cima da mesa o estritamente necessário, caneta e máquina de calcular se for o caso. Um ligeiro espreguiçar e estalar de dedos, uma inspiração profunda, e um olhar que denota pressa para começar o exame como se se percebesse alguma merda do que lá vinha.

Só passado cerca de um quarto de hora se instaura a calma bendita e necessária para se começar a copiar com toda a confiança.

5 - Nunca ter pressa para acabar.

Naqueles dias ideais, em que o exame corresponde quase literalmente ao copianço que elaborámos no dia anterior, parece que é demasiado bom para ser verdade. E acaba-se o exame em meia hora. E é aqui que os copiadores, mesmo os mais astutos, podem cometer erros. É fundamental ficar na sala de exame até acabar, ou quase, e entregar a folha ao professor sem um sorriso de óbvio optimismo estampado na cara. E como é óbvio, cumprimentar o professor antes de sair, porventura largar uma tirada para aliviar a tensão (“Veja lá se me dá uma boa nota, professor!” é um clássico inocente).

6 - Pedir para tirar dúvidas.

Condição obrigatória. Em todos os exames que copiei, pedi para tirar dúvidas com o professor. De preferência nos primeiros momentos do exame. E obrigatoriamente dúvidas com o mínimo de pertinência (“Professor, quanto dá esta conta? Não trouxe máquina.” A conta era 2500 a dividir por 100, é trata-se de uma história verídica).
Ao pedir para esclarecer uma dúvida, matamos dois coelhos com uma cajadada. O professor considera-nos um aluno honesto e aplicado, e também nos exclui inconscientemente dos alunos que precisam de maior vigilância.

7 - O melhor esconderijo é à vista de todos.

Muitas pessoas tenho eu visto que fazem esforços elaboradíssimos para esconder o copianço. Nas meias, nas cuecas, no compartimento das pilhas da máquina de calcular, enrolado dentro da caneta. Esforços espúrios, sintoma de nervosismo que pode deitar tudo a perder.
Existem dois sítios para levar o copianço, sítios necessários e suficientes para se copiar com toda a segurança:
7.1 - Na manga da camisa/camisola.

Nada mais simples. Passado o quarto de hora da morte, com calma e confiança saca-se do copianço da manga do braço oposto ao qual se escreve. E coloca-se esse copianço por baixo das folhas de exame. Este é o sítio ideal para se copiar, um simples e inocente virar de páginas do exame concede-nos acesso a toda a informação que trouxemos de casa.

7.2 - No bolso de trás das calças.

Quando o copianço na manga é inconcretizável (quando, por exemplo, estamos a ser vigiados por trás e não pela frente), é altura do plano B. Não tão acessível como na manga, este é um pouco mais elaborado. Trata-se de levar o copianço no bolso de trás das calças, e passado o tal quarto de hora da morte, começar a actuação. Simular uma comichão no rabo, tirar o copianço e colocá-lo por baixo deste. Esperar um pouco. Ver se a costa está livre. Mas a comichão não passou, agora está na púbis. Por isso, simular que se coça as partes baixas (a rata ou os tomates) e passar o copianço para o meio das pernas. Mas atenção! Ao consultar o copianço aí colocado, é necessário apoiar a cabeça na mão com o cotovelo apoiado na mão, numa posse pensativa, de modo a esconder o nosso olhar dos professores.

8 - Fazer o follow-trough.

O processo de começar a copiar num exame é em tudo simétrico ao de desmontar a operação, embora mais fácil. O mesmo cuidado que se tem a começar a copiar deve ser aplicado ao acabar. Não deixar pontas soltas, recolher todas as provas do crime, e nunca nos desfazermos delas num raio de 100 metros do local do exame.

E finalmente,

9 - K.I.S.S

Keep It Simple, Stupid!


Eficácia: 6
Exequibilidade: 10
Probabilidade de não ser apanhado: 2


Eficácia: 3
Exequibilidade: 2
Probabilidade de não ser apanhado: 10


Eficácia: 7
Exequibilidade: 9
Probabilidade de não ser apanhado: 2


Eficácia: 8
Exequibilidade: 7
Probabilidade de não ser apanhado: 5

Eficácia: 4
Exequibilidade: 3
Probabilidade de não ser apanhado: 6
Criatividade: 200


Eficácia: 10
Exequibilidade: 0
Probabilidade de não ser apanhado: 10


Espero que vos tenha sido útil.
Boa sorte!

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