28 de julho de 2010

Fernando.

Chamemos-lhe Fernando Oliveira.
Fernando Oliveira é um habitante do interior do país, que se sentia gordo e diabético. Fernando Oliveira, homem tenaz e preserverante, propôs-se então a emagrecer, de modo a melhorar a sua saúde e aparência, não sem antes tirar uma fotografia do “antes” e do “depois”, para afixar na loja de produtos naturais que o patrocinava.



Como se pode ver na figura, a doença estagnou quando Fernando passou a descer pelos 100 Kg. Porém, como o número que ele avançou foi de 30 Kg, ainda continua na sua demanda para perder esses kilos a mais.
Ora, eu acho que há várias coisas que correram mal nesse processo. Não falo do Photoshop de 30 segundos para esticar a imagem do “depois”: falo sim da atitude do “antes” e do “depois”. Que se passou, Fernando? És feliz agora, que és mais magro?



“Antes” comias chanfana ao pequeno almoço, e as mulheres que querias. Usavas uma T-shirt da Quicksilver, tinhas atitude, eras chefe de um negócio florescente de desportos radicais onde levavas jovens casais enjoadinhos da metrópole por fulgurantes descidas de rápidos do rio Paiva, fazias grandes patuscadas com os teus amigos onde começavam a almoçar ao meio dia e acabavam de jantar à meia noite, sem intervalo de jejum pelo meio. E ainda te atiravas ao tanque de lavar roupa do vizinho, e não te queixavas do ligeiro refluxo.
Tinhas peso a mais, e carisma também. Vendias saúde e boa disposição.
Até que decidiste emagrecer por causa da diabetes.



Que se passou, Fernando?! Porquê? Valeu a pena? Perdeste 22 Kg e o equivalente em brilho. Já não és uma mente jovem radical, uma carta fora do baralho, uma personagem, o primeiro a cair da varanda nos casamentos, aquele por quem as mulheres suspiravam e os homens atiravam as mãos à cabeça. Para onde foi a joie de vivre? Foi-se embora, como a glicémia? Agora, vestes de camisa por dentro das calças, que já te servem, passaste a usar óculos, e trabalhas no back office dos CTT a aviar encomendas. Comes sempre uma peça de fruta pela manhã, um yogurte pela tarde. Os açucares estão regularizados, porque tu os verificas 5 vezes por dia. Vendeste a mota e penduraste o garrafão. Valeu a pena?



























26 de julho de 2010

19 de julho de 2010

Carta Aberta

Exmos. Srs. da Car Lease

Na passada semana a minha viatura, uma Citroen C4 Picasso, deu o peido mestre. Deixou de pegar, por um problema qualquer de electrónica. Ora, o serviço por vós prestado inclui reboque e viatura de substituição. Não me queixo da rapidez do vosso serviço, pois apenas meia hora depois de ter ficado apeado já tinha a viatura em cima do reboque e um táxi para me levar à viatura de substitução.
O que se passa foi que, apesar dos vossos serviços alardearem que a viatura de substituição será da mesma gama que a viatura corrente, aparentemente desta vez não havia viaturas da mesma gama que pudessem substituir a monovolume com que eu me deslocava.



Foi-me dito , por uma das vossas colaboradoras, que se mostrou muito simpática (disso não tenho razão de queixa), que não havia viaturas de 7 lugares, e se eu não me importava de ficar com uma viatura comercial, de apenas dois lugares. “Que se lixe”, pensei eu, pois o conserto da minha viatura não deveria levar tanto tempo. Ora, mas a viatura “comercial” de substituição que me foi atribuída ficou muito aquém das minhas expectativas. Mesmo sendo uma viatura de uso temporário, e não sendo eu esquisito, julgo que ficou uns bons pontos abaixo dos vossos pergaminhos de qualidade.



Primeiro, o nome. Julgo que se trata de uma marca chinesa, “Zonda”, pelos vistos, querendo passar por uma cópia barata dos “Honda”, marca nipónica de carros de qualidade. O primeiro dia que passei com o “Zonda” foi de bradar aos céus: um barulho perfeitamente insuportável, a comodidade era verdadeiramente nula, não podendo eu passar por cima de um selo sem adivinhar o seu valor facial. A viatura não tem mala que se aproveite, nem um necessáire lá cabe. De modo que tive de fazer várias viagens no decurso do meu dia de trabalho. A visibilidade traseira é pior que nula (dei um par de toques na traseira, que por sinal tem 4 ponteiras de escape que parecem bidões), galgar passeios é impossível (deixei o spoiler em Anadia, podem ir lá depois buscá-lo), o interior é incómodo de tão despido, vendo-se as cablagens e uns materiais a imitar a fibra de carbono. Dos consumos nem falar, se fosse eu a pagar o combustível estaria ainda mais indignado. Gastei dois depósitos a ir ao Pingo Doce, que fica a dois quarteirões de minha casa.
Em suma, um horror. Aconselho-vos vivamente a rever a vossa política de viaturas de substituição, uma vez que este “Zonda” é mais indicado para aqueles miúdos de 20 anos que gostam de acelerar nas rotundas para impressionar as miúdas, não para um jovem trabalhador com uma hérnia discal.

Cumprimentos

9 de julho de 2010

3 de julho de 2010



Octávio estava sentado ao computador.
Compenetrado e concentrado, mesmo com os headphones que lhe cobriam os lados da cabeça conseguia sentir a intimidante presença da sua chefe atrás dele.
Quarentona segura de si própria, divorciada havia anos porque “não conseguia conciliar o trabalho com as suas obrigações de mulher”, baixa mas elegante, de seios fartos e opulentos que não se dava ao trabalho de esconder, olhos castanhos e dentes manchados por anos de café e tabaco, sorria com aprovação para o trabalho de Octávio. E este sabia-o. Era bom naquilo que fazia.
Quando acabou, recostou-se na cadeira e passou vigorosamente as mãos pela cara e suspirou, porque era assim que achava que as pessoas faziam quando terminavam algo difícil e exigente.
— Olá chefe. Não sabia que estava aí — mentiu Octávio.
— Está a correr bem, hoje — disse Patrícia, calmamente.
— Sim, mais ou menos — disse Octávio, numa nota mais alta e com um esgar de desprezo.
Octávio cedo aprendeu que, no mundo empresarial, de forma a menosprezar mais eficazmente os fracassos, havia que menosprezar os sucessos de igual forma. Na verdade, o Kill/Death Ratio do dia foi de 2.41. A sua média mensal era de 1.8, enquanto que a média da equipa era de 1.2.
— Você está muito forte nos mapas do Egipto e do Ship. Isso é bom, dá muitos pontos. Mas mesmo assim acho que precisa de melhorar nalguns aspectos, por isso vim aqui falar consigo.
— Então, chefe? — disse Octávio, rodando lentamente a cadeira na sua direcção.
Octávio tinha respeito por Patrícia. Patrícia foi número um durante dois anos no Counter Strike, foi a fundadora do clã mais bem sucedido a nível europeu do Urban Terror, e foi a pioneira a matar o inimigo final do Wolfenstein sem a rotativa.
— Você foi chamado porque tinha uma boa reputação em alcance. Como apoio necessário cá atrás com fogo pesado enquanto os nossos batedores faziam estragos lá à frente. E lamento dizê-lo, Octávio, você é uma miséria com a AWM.
— Compreendo, chefe — dizia Octávio. Parecia que já tinha o discurso preparado. — Mas digo-lhe já, sniper não compensa. Mesmo no Mónaco a minha SCAR Light é mais eficaz. Mato muito mais gente.
— Eu sei, Octávio. — Patrícia também parecia preparada. Como sempre. — Mas não é só as kills que contam. Você se for bom com a sniper, mata menos gente mas consegue um melhor K/D.
Octávio concordou. Ultimamente, admitia, dava-lhe mais gozo entrar com Uzi ou a MP5 para dentro dos edifícios do Mexico ou do Fortress e triturar quem lá estivesse dentro, do que ficar cá atrás com a AWM, ou mesmo com a nova DSR-1, a dar apoio à malta lá da frente.
— Você vai ter uma formação com o Teixeira. Ele é o melhor de nós com sniper, e ele pode-lhe dar umas boas dicas. Entretanto, quero que você prepare uma formação para dar à nossa equipa sobre granadas. Você consegue grandes resultados com granadas que mais ninguém consegue.
— Tudo bem, chefe.
Octávio encolheu os ombros com modéstia, tal como estava treinado. Mas sabia que era verdade. Já se imaginava a preparar os slides, com o óbvio contentor no Ship, a varanda no Mexico, a passadeira no Train. Às vezes eram aos três de cada vez.
— Preciso do plano até Segunda.
Octávio suspirou esta vez, menos imperceptivelmente. Estava perto do fim de semana, e Octávio já se imaginava a tirar a T-shirt e os calções, descalçar os chinelos, vestir o belo do fatinho e ir vender esquentadores até Domingo à noite.
Mas já não vai ser possível.



Empregado do mês.

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