31 de julho de 2009

Rosinha

Segundo a mitologia Pimba em Portugal, hoje, dia 31 de Julho, é o melhor dia para casar. Assim, vou comemorar esta efeméride apresentando uma nova artista no panorama musical português, fazendo a análise hermenêutica de duas das suas cantigas, na minha óptica as que têm melhor potencial para serem sucessos comerciais e mesmo culturais.

Trata-se da Rosinha. Nesta primeira música, ela debate-se com um dilema que várias donas de casa conhecem: o recipiente mais adequado para levar a comida ao marido.
O marido (ou namorado, não se sabe, porque ela o trata por “amor”) trabalha fora, e não tem tempo para almoçar. Conta então com a Rosinha para lhe preparar o almoço. Este consta de sandes de fiambre e de panado, e existem duas hipóteses para transportar a comida: o meio mais convencional, uma lancheira, aconselhado pela própria mãe, ou então um pacote, que segundo Rosinha é melhor para conservar o sabor do almoço. Assim sendo, Rosinha assume desde logo uma posição excêntrica e desafiadora perante a própria mãe, decidindo levar ela mesma o almoço ao marido num pacote.
Vamos ficar então com a Rosinha:



Neste segundo registo, que passo a apresentar, Rosinha já não se debate com decisões, mas sim revela o seu lado mais humano e feminino, quando, ao sair com o marido para as compras, fica encantada com uma mala que encontra, e pede ao marido que a compre, revelando que existem também contrapartidas para este se ele satisfizer o seu desejo.
De novo, connosco, Rosinha:



Rosinha consegue, de uma vezada, com o seu álbum “Com a Boca no Pipo”, abranger quase todo o pathos que a mulher portuguesa mediana enfrenta no seu dia a dia. Vícios mundanos, virtudes privadas; tornando-se Rosinha num marco incontornável no panorama artístico português.

30 de julho de 2009

Cãoma Sutra

Os animais também praticam o sexo tântrico, e eu estive em Sines a documentar o acto. Trata-se do Bobi (chamar-lhe-emos assim), um cão de raça amarela, e a Boneca (idem), uma cadela de raça negra.

Tinham uma relação pacata, sem compromissos, até que algo correu mal numa tarde soalheira de Sexta-feira. De alguma forma, no êxtase da cópula, ou como dizem os franceses, na petit mort, o Bobi deu um back flip e ficou de costas para a Boneca. E assim ficaram, numa posição inédita (para mim), durante parte da tarde. Nenhum deles me pareceu particularmente preocupado. A alternativa seria cirurgia ou um balde de água fria, nenhum deles acessível à distância de um braço, por isso a terceira hipótese seria o gáudio dos transeuntes.
Numa festa de celebração da vida, do Sol, da aliança entre irmãos, da paz entre os Homens, ali estavam dois espécimes animais a alardear o Amor Livre e a quebra de perconceitos entre vizinhos. Ali estavam eles, numa rampa de alcatrão para sair da praia, um virado para Poente e outro para Nascente, uma canzana invertida, uma posição caricata, num frenesim de amor e intimidade.
Durante uma tarde inteira, porque não havia alternativa. Não fiquei para ver o desfecho, mas calculo que envolveu um descarcerador.


9 de julho de 2009

CR9

Alguém se vira para mim, numa tarde de segunda, e me diz:
— Olha lá, queres ir ver o Ronaldo?
— Então?, digo eu.
— O Ronaldo vai ser apresentado ao Real Madrid. A semana passado foi o Kaká, o Santiago Bernabéu levou 40.000 pessoas. Estão à espera de 70.000 agora para o Ronaldo.
— Então mas vai haver jogo? Ele vai jogar à bola?
— Não...
— Vai haver palhaços, fogo de artifício ou paraquedistas?
— Também não. Só o CR9. Queres vir ou não?

E eu “Bora lá”. E lá fui.



85.000 pessoas para ver o Cristiano Ronaldo. Uma boa oportunidade para ver o Santiago Bernabéu que nem um ovo, várias oportunidades para discutir a influência do futebol nas massas e criticar os valores monetários em causa. Calcula-se que em 10 dias se vendam 100.000 camisolas, a 95€ cada uma.

Apareceu também o Eusébio num fato caqui.



E o Ronaldo a dar toques.



Ora, o Ronaldo é um grande jogador. Portou-se muito bem, e até nos fez o gosto de passar Xutos e Pontapés durante as suas voltas ao estádio. Abraçou meninos e bebés, pousou para as câmaras, autografou bolas, fez o gostinho ao pé, agradeceu ao público, e depois fugiu das pessoas que entraram no campo para lhe pedirem um bocado do seu cabelo.



Sim, é verdade... para o final entraram algumas dezenas pelo campo dentro, como se de um arrastão na Rocinha se tratasse. Miúdos pequenos e velozes, a fugir de polícias reformados; foi muito giro de se ver e despertou também muitas ovações. Adeptos de tauromaquia como os espanhóis, também a facção portuguesa se levantou e aplaudiu, sem que no entanto se cortassem as orelhas aos polícias reformados.
Que não se pense que os miúdos eram desordeiros, ou que foram movidos pelo impulso do momento e histeria de massas. Eram, sim, apreciadores do futebol, porque utilizaram várias tácticas, entre elas a escola do Danúbio como o 2-3-5 de losango invertido com um líbero recuado.



Depois saímos do estádio, e o Ronaldo telefonou-me. Disse-me que afinal não ia dar a tal festa porque estava cansado, mas que assim que houver oportunidade me diz qualquer coisa.


7 de julho de 2009

Gay Pride 2009

O palco estava montado: a maior parada gay da Europa, no maior bairro gay da Europa, a terminar a semana da maior festa gay da Europa. Dois milhões de pessoas que vieram, dois milhões de livres-pensadores e livres-amadores, gente bonita e depilada, gente que acaba por dar razão a Nietzsche, nobres Übermensch que caminham de mãos dadas, que ganham um salário em média superior ao resto da humanidade que por cá anda para se reproduzir, que domina todas as artes e alguma da ciência, gente que anda de rabo ao léu no meio da rua.



Não podia perder pitada. Havia Samba na Gran Vía!



E estas festas, como já tenho reparado, puxam o melhor de Madrid, a cidade com o melhor serviço do mundo. Nunca me faltou cerveja fresca, servida à distância de um braço e antes de pedir, bastando apenas pensar. Desses 2 milhões de pessoas, acredito que pelo menos um milhão eram chineses a vender latas de Mahou.



Comprei cerveja ao longo da noite toda, um chapéu catita pelas 3 da manhã, e uma sandes de chouriço pelas 6.

Outra coisa que saltava à vista era a amostra aparentemente completa de todo o espectro da humanidade. Havia velhos, novos, homens, mulheres, bonitos, feios, gordos, magros, ricos, pobres, pretos, brancos, loiros, e tudo o que pode existir pelo meio.
Esta é a a Maya, iniciada aos 45 dias de vida a um planeta ambicioso de tolerância e excentricidade.



Por todo o lado se exaltava o amor livre. Toda a gente se conhecia, e o exótico pairava no ar. Lembrei-me de seguida, sem nunca lá ter estado, de como seria o ambiente na corte francesa no séc. XVIII... e de repente, aparece-me a Maria Antonieta!



E personagens variadas.



Até mesmo os sindicatos estavam representados, sabe-se lá porquê, no autocarro da UGT mais fixe que eu já vi.



E para terminar, uma imagem de redenção, ou de esperança, ou apenas uma foto bonita que tirei no desfile.


2 de julho de 2009

Beam me up!

“Faço caridade com todas as religiões. Não quero perder o Além num tecnicismo.”
Bob Hope

Na antiga mitologia Azteca, existe um sítio para onde as pessoas vão quando morrem que é do piorio. Chama-se Mictlan, fica no extremo Norte e corresponde ao nono e último nível do submundo. Trata-se de um caminho bastante difícil que dura quatro anos, mas que tem um guia que ajuda, um psicopompo chamado Xolotl. Há no entanto três maneiras das pessoas morrerem para evitar ir para esse sítio terrível, e ir directamente para o melhor dos vários paraísos, que é Tonatiuhichan. Essas três maneiras de morrer são:

- Morrer como herói numa batalha
- Morrer a dar à luz
- Ser atingido por um relâmpago.

Não vou discutir a incrível criatividade envolvida, ou as fontes que os Aztecas usaram para descrever ao pormenor o que acontece no pós-vida, ou a aparente aleatoriedade das letras que compõem a sua linguagem.

Gostava de saber, sim, por que raio (trocadilho fácil) é que ser atingido por um relâmpago tem tanto mérito como ser um herói numa batalha.

Assim, calculando todas estas possibilidades, calculei a melhor maneira de se morrer na cultura Azteca, indo directamente para o Tonatiuhichan. É a seguinte:

Uma mulher grávida vai para a guerra também para ajudar o marido. É um dia de trovoada, quente e seco. No calor da batalha, depois de matar uma data de inimigos, ao atirar a sua lança para atingir a cabeça de mais um, cai um relâmpago atraído pelo bronze da lança. Ao ser fulminada pelo raio, o seu corpo contrai-se e o bebé, que já estava para sair de qualquer maneira, sai disparado da sua vagina e ainda mata mais três inimigos.

Ora,se eu fosse Azteca, calcularia que esta mulher é uma santa e merece o melhor dos céus.




1 de julho de 2009

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