22 de março de 2010

O Target.

— Tens de ser mais objectivo a falar, rapaz. Demoras demasiado tempo a expôr uma ideia que pode ser transmitida num décimo do tempo. Não podes estar demasiado tempo a introduzir o que queres dizer, usando preciosos minutos a enrolar o croquete com preliminares desnecessários. Imagina que tu és um carro num deserto, e tens de ir para o ponto A para o ponto B. Qual é o caminho mais rápido? Uma recta, certo? O que tu tens de ser é como o comboio, que está limitado a andar em cima de carris. É impossível desviares-te do objectivo, senão descarrilas. Tens de ser como uma seta; apontas ao alvo, largas a corda e lá vai ela. Como os leões e as chitas. Sabes que eu vejo muito o National Geografic, gosto muito dos animais. E pode-se aprender muito com eles. Sabes as chitas? Elas escolhem o alvo, uma gazela ou uma impala, por exemplo, e largam a correr atrás delas. Dão mais de cem à hora a correr. Escolhem a gazela, e não a perdem de vista. Vão directas ao seu objectivo, sem fazer rodriguinhos. Se fazem rodriguinhos, perdem a presa. Estás a perceber?
— Sim.
— O que tu queres dizer tens de o dizer directamente, sem rodeios, sem analogias redundantes, sem paralelismos anafóricos, sem múltipla adjectivação, sem jactância pomposa e grandiloquente. É como os snipers. Sabes que eu vejo muito o Discovery, aqueles programas de armas e tal. Os snipers é one shot one kill, estás a perceber? Mandam um tiro directo ao alvo, apenas um. Os tropas normais, de metralhadora, já não; esses disparam quase ao acaso, espalhando o caos pelas tropas inimigas. Gastam muitas balas e matam pouca gente. Estás a ver?
— Hum-hum.
— Agora, o discurso é a mesma coisa. Não podes estar muito tempo a tentar explicar a mesma coisa, concerteza o teu interlocutor já percebeu à primeira. O ideal, neste ramo, é dizer muito e falar pouco. Usar poucas palavras, mas cheias de significado. Pois se estás muito tempo sem sair do assunto, o teu cliente perde-se.
— Pois.
— Por isso te digo, e isto é um conselho de amigo, atenção! É que eu já cá ando há algum tempo e sei bem como estas coisas funcionam. E isto é uma coisa que é muito fácil de treinar, isto de ter um discurso fluente. Ás vezes demora tempo, é uma coisa trabalhosa, mas já dizia o Churchill, sabes que eu gosto muito de ver o canal História, ele dizia assim: os meus discursos improvisados demoram muito tempo a preparar. E a verdade é esta, só com muito treino é que te tornas capaz de veicular uma ideia de forma sintética, sem rodeios, sem desperdícios, sempre com o alvo à vista. Ok?
— Ok.

18 de março de 2010

16 de março de 2010

POI

Transcrição da 2ª sessão do XVII Plenário de Onicomicose Individual.

Trichophyton interdigitale, Secretário-Geral da Unha do Dedo Grande do Pé Esquerdo, toma a palavra:

“Amigos, colegas, fungos! O assunto que vos trago é de extrema importância. As minhas palavras têm sido ignoradas e vaiadas há já demasiado tempo. Bem sei que estamos saudáveis, férteis e prolíficos, mas isto não vai durar sempre!” — apupos derrogatórios vindos da plateia — “Podem vaiar-me à vontade, mas os factos estão lá: estamos a exagerar. Bem sei que, felizmente para nós, o Indivíduo não leva a sua higiene a sério. Bem sei que, felizmente, não corta as unhas, e não lava bem entre os dedos. Bem sei que usa calçado apertado, e chega a usar as mesmas meias durante 3 dias. Mas, volto a dizer, isto não vai durar sempre!!”

No écran, surge uma fotografia:




"Este é o aspecto da nossa nobre colónia. Fomos, e ainda somos bem sucedidos na proliferação na nossa espécie, e na infecção de outros indivíduos. Estamos no bom caminho para continuar pelas unhas dos outros pés. E por enquanto, e repito, por enquanto, estamos assintomáticos. O indivíduo ainda não tomou as providências necessárias para nos erradicar. Mas isto posso afiançar-vos: o tempo está próximo.” — mais apupos derrogatórios vindos da plateia — “a verdade, para quem ainda não o saiba, é que o indivíduo já comprou uma embalagem de Fluconazol, e ainda não a utilizou porque está com preguiça e porque não tem noção dos estragos que podemos fazer. Por isso vos digo, meus caros fungos, vamos com calma! Vamos aplicarmo-nos em infectar o resto das unhas, de forma equilibrada, em vez de estarmos a rebentar por completo a Unha Grande do Pé, chamando a atenção do Indivíduo e causando a exterminação completa da nossa raça!”

Pausa pensativa. Um sorriso assoma aos lábios do Secretário-Geral.

“Longe vão os tempos da nossa colónia na Unha do Dedo Grande do Pé Direito da D. Elisa!”

No écran, surge outra fotografia. Na audiência ouvem-se suspiros de nostalgia.



Vou começar hoje a tratar-me.


14 de março de 2010

Sacanas do Google!

Mataram o bambi.

8 de março de 2010

Zassim

Comum a todas as mulheres que também são mães é falar pelos seus filhos bebés. Sabeis? Tudo sorrisos à volta, afagar a papada do garoto e dizer “Ai que lindo! Como é que te chamas?”, numa vozinha aguda. E o bebé passa uma procuração de linguagem à mãe e esta diz, numa voz uma oitava acima “Chamo-me António”, mas não sem antes introduzir numa voz normal ao ouvido do bebé: “Diz assim”. E isto todas as mães o fazem. É um facto. Os bebés comunicam pela mãe, sempre com um “diz assim” antes. O bebé raramente obedece. E depois de alguma conversa desta sem sentido, a mãe já aglutina o “diz assim” para “zassim”. “Então que idade tens?”, “Zassim: tenho 36 semanas só!”, “Quanto é que dá isso em anos?”, “Zassim: dá 6 mesinhos só!”

E isto aconteceu-me hoje. Uma mulher gorda tinha um infante ao colo. Não era bonito nem feito, apenas esquisito. Porque os bebés, aparentemente, não podem ser feios. Este tinha uma cara que parecia um quadro de Picasso. Estava a espumar uma coisa qualquer verde da boca, e seu bracito esquerdo parecia sem vida. Estava em mau estado o garoto, pensei eu, mas a mãe assegurou-me que ele é mesmo assim. Comido, mastigado e cuspido pela vida, com nem um ano de existência. Olhava para o infinito, e de vez em quando pareceu-me que ele suspirava. Como a mãe se chegou ao pé de mim, segurando o miúdo com uma mão como se fosse um algidar de roupa, agitando o garoto para cima e para baixo (e o seu bracito bambo para cima e para baixo, como os gigantones das cavalhadas), e me veio pedir um cigarro, percebi logo que ele queria conversa. Quase me empurrava o garoto para cima. Fiz conversa com ele, então.
— Ai que bebé tão bonito! Como é que te chamas?
E lá dizia a mãe, depois de sussurar um “Zassim”.
— Chamo-me Manel — dizia ela com os olhos muito abertos e voz estridente, carregando nas vogais.
— Então e o que estás aqui a fazer? Estás doente? — pergunta retórica, que fiz com a mesma vozinha aguda e retardada.
— Zassim: Sim, o corno do meu pai deixou-me cair do tractor e eu tenho um dói-doi! — Estranhei um bebé ter este tipo de linguagem, com procuração ou não.
— Então como é que isso foi acontecer?
De notar que, nestas conversas, ambos os interlocutores olham para o bebé a rir e com os olhos muito abertos. A partir de certa altura, torna-se sinistro.
— Zassim: Ele ia bêbado logo de manhã, entornou um garrafão de vinho que ganhou na sueca ontem e resolveu-me levar para um passeio, o grande cabrão!
— Ah...e... e está tudo bem contigo? — Ainda estava a sorrir.
— Zassim: Espero bem que sim, senão a minha mãe vai buscar a cacadeira do avô e vai espetar um zagalote nos cornos do meu pai!
— Ok... Então vá, as melhoras!
— Zassim: Xau senhor!
— Adeus minha senhora. As melhoras para o menino.
— Adeus.

"Auguro-lhe um belo futuro, minha senhora"
"Zassim: Vai apanhar no cu."



7 de março de 2010

Aviso à navegação!

Tenham todos muito cuidado com aquelas máquinas que há nalguns cafés em que se mete uma moedinha de cinquenta cêntimos e depois sai uma bolinha de plástico transparente com um rebuçado e um papel colorido. Esse papel corresponde então a um prémio que está exposto, normalmente um mars, um twix ou uma placa de chamon.
O problema é que devemos sempre estar atentos ao que fazemos, não tomar decisões precipitadas, uma vez que, quando iniciado, o processo torna-se irreversível.

3 de março de 2010

Hum...

Posso checar-te o material, amigo?

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