12 de maio de 2010

A Objectiva Epiléptica

Grande Angular

Há cerca de 5 mil milhões de anos, houve um explosão que criou toda a massa que conhecemos. Primeiro sub-partículas atómicas, depois átomos, e depois moléculas. Essa massa que foi criada foi arrefencendo e criando objectos esféricos (porque esta é a forma entropicamente mais estável). Se os objectos criados fossem grandes, acendiam, tornando-se quentes e luminosos. São as estrelas. Se fossem pequenos, continuavam escuros e frios, e orbitavam à volta das estrelas. São os planetas. O espaço criado pela explosão continuou a crescer, e o Universo ia ficando cada vez mais frio. Há quem diga que daqui a uns tempos o Universo vai voltar a encolher, a massa a ficar cada vez mais próxima e a transformar-se outra vez em energia, e não vai restar memória de NADA, absolutamente NADA do que possa acontecer até lá. Depois há-de haver outra explosão, ou não.

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Acordo, faço a barba, urino no banho para poupar água e tempo. Visto o fato, tropeço nos vários sapatos que estão no chão. Enquanto aqueço o leite no microondas, escolho uma gravata e visto-a. Enquanto vejo as notícias como os cereais.

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O meu corpo tem enzimas por dentro que transformam os cereais em energia, energia que preciso para caminhar, conduzir, pensar e falar. A comida que não preciso é transformada em gordura e armazenada numa camada por baixo da pele.

Macro

No tecido adiposo.

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O planeta onde estamos tem pouco mais de 6000 Km de raio e tem uns 6 mil milhões de habitantes. E somos cada vez mais pessoas e menos variedade de animais. E há dois tipos de pessoas: homens e mulheres. Desde sempre que o objectivo de ambos é encontrar o melhor espécime do outro lado para procriar. E cada um usa diversas armas para iludir os outros de que é melhor do que realmente é.

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A rapariga que está ao balcão, num café da aldeia, a meio da manhã, a servir-me uma nata e um café, tem uns seios grandes e ancas largas. Logo, é atraente.

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A gordura, nas mulheres (a tal comida em excesso), é armazenada preferencialmente nas mamas e nas ancas.
Sei conscientemente que mamas grandes e ancas largas me atraem irracionalmente, porque me dão a ilusão de que os filhos que possa vir a ter com ela não passarão fome e passarão bem pelo canal vaginal, aumentando as hipóteses de ambos virem a ser espécimes saudáveis.

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O escritório tem um aspecto usado e antigo, com a pátina dos anos de serviço a surgirem no tecto sob a forma de fungos.

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Um fungo é uma forma de vida das mais estóicas, prosperando em condições escuras e húmidas. A vida tem características de resistência incríveis, surgindo de quase nada e multiplicando-se exponencialmente com um mínimo de condições favoráveis.

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No caminho para casa, passo por paisagens verdejantes e o meu ritmo cardíaco abranda. A côr “verde” tem esta capacidade porque nos remete, no sistema límbico, para um atavismo de caçador-recolector onde tudo era idílico, e as árvores verdes provienciavam-nos abrigo, segurança e comida. O vermelho, tem o efeito contrário, porque nos remete para o sangue e o fogo, e nos inspira perigo. Por isso é que a cor “verde”, nos semáforos, nos indica “pode seguir, é seguro” e o vermelho “pare, perigo”.
Chegando a casa, é altura de voltar a comer, ver um pouco de televisão.
E depois lavar os dentes, urinar, na retrete desta vez, vestir o pijama e ir para a cama para dormir.

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O planeta deu mais uma volta sobre si mesmo (passou um “dia”). Quando der uma volta completa sobre o Sol, passou um “ano”, e eu estarei aqui ou não.

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