3 de maio de 2009

A Arte da Borra, parte II

A pior de todas? Muito simples. Estou portanto em Valência, numa altura em que anos consecutivos de abusos ao meu sistema digestivo, perpetrados pelo consumo desregrado de molho picante, começam a colher dividendos. Havia alguns dias em que uma comichão anal me andava a incomodar, ao ponto de me alterar a maneira de andar. Foi nessa altura, portanto, que decidi experimentar a bebida típica de lá: chama-se orchata, é feita de chufa (seja lá o que isso for). Sabe a sementes trituradas e atravessou-me como se eu fosse oco. Numa questão de 10 minutos, percebi que não tinha saída: tinha de evacuar, tinha de ser rápido e não ia ser bonito. Quebrei, sem opção, a Lei Primeira, e deixei que fosse o meu cu a mandar em mim. Não tinha mesmo alternativa. Comecei freneticamente a procurar o local apropriado, primeiro, com alguma pressa, depois com ânsia, depois em pânico. A única coisa que surgiu, às 10 da noite, foi o Corte Inglês. Entrei, e 10 minutos depois de um patinhar aleatório pelas lojas, com os olhos raiados de sangue, cheguei ao WC. Como em qualquer cagada gerada pelo pânico, assim que olhei para a sanita com as calças na mão, o cronómetro começou a contar, e não dispunha mais de 4 segundos. E lá me sentei, em contra-relógio, preparado para o pior. Sabia que ia ser difícil.
E foi difícil... E feio. Cerrei os olhos, comecei a trautear uma música do Brian Adams, e foi como se estivesse a receber um clister de chumbo derretido. Foi feio, doloroso, desgastante. Uma prova retumbante do espantoso espectro que abrange o prazer supremo de uma boa cagada e a humilhação perfurante de uma caganeira numa casa de banho de um centro comercial. Tudo correu mal, mas estas experiências também para isso servem, sem elas nunca saberíamos apreciar uma boa borra.



Sem comentários:

Acreditam:

Seguidores