6 de fevereiro de 2010

Entrevista.

Depois de cumprir o protocolo, abrindo a porta a uma Maria de saia curta mas não demasiado, Jorge Silva esboçou um sorriso. A primeira imagem era bastante positiva. Nos seus trinta e poucos, Maria mantinha uma silhueta de 21 anos, graças a algum ginásio e principalmente à genética. Entrou com ar decidido, cumprimentando Jorge com um seco aperto de mão e dirigindo-se à cadeira em frente à secretária.
Mantendo o sorriso inicial, disse a Maria “Então a Dona Maria quer casar comigo”, como se um director de escola dissesse complacentemente um menino que acabara de se portal mal “Então voltaste a fazer merda, Pedrão”.
— Dona Maria não, Jorge. Tratemo-nos por tu, uma vez que eu vou ser tua mulher em breve. — disse Maria com outro sorriso do género.
— Ah, ah, ah — disse Jorge com uma gargalhada — vejo que está muito confiante. Era bom que fosse assim tão simples. Por enquanto, sou o Sr. Jorge. Vamos lá então conversar um pouco?
— Sim, senhor — disse Maria ajeitando-se inconspicuamente na cadeira e respirando fundo.
Jorge desfolhou o currículo de Maria, em mais tempo do que esta desejava. Folheava, voltava atrás com ar sério, sem nunca olhar para Maria. Olhou, enfim, quando perguntou:
— Diz aqui que perdeu a virgindade muito cedo.
— É verdade — disse Maria, simulando que estava preparada para essa pergunta. — Comecei a namorar muito cedo, e surgiu essa oportunidade. Não me arrependo, foi perfeitamente consensual.
— Tudo bem. Quantos homens já teve na sua vida? Aqui não consta. — disse Jorge atirando os papéis que segurava para cima da secretária.
— Não julguei que fosse importante. Mas tive cerca de uma dúzia.
— Cerca de uma dúzia?
— Sim, entre 10 e 15. Não sei, não fiz as contas. Como disse, não julgo importante.
— Conte-me a história de cada um deles, ou dos mais importantes, de forma resumida, por favor.
— Muito bem — disse Maria, apertando as mãos no meio dos joelhos e desviando os olhos para cima e para a direita. — Tive o meu primeiro namorado, o Alfredo, que me tirou os três, durante uns dois meses. Era uma miúda, coisas de miúdos aconteceram pelo meio, de que nem me lembro. Mas não foi nada de sério. Tive um outro, que conheci durante o curso...
— ... de Assistente Social, certo? — interrompeu Jorge.
— Precisamente. Conhece-se muita gente, como calcula, ele pareceu-me um rapaz correcto, e a nossa relação durou um bom meio ano. Não era má pessoa, mas um pouco imaturo. Acho que gostava mais de fumar charros com os amigos e de jogar Playstation do que estar comigo. Eu não sou chata nem possessiva — interrompeu-se Maria, como se se arrependera do que acabara de dizer — mas exijo o mínimo de dedicação, para uma relação funcionar. Ora, depois tive umas poucas breves relações, inclusive com um rapaz que me batia, mas era extremamente charmoso, outra com um rapaz muito tímido e sem qualquer sentido de humor, mas era muito bom no capítulo sexual. Uma ou outra relação, sem qualquer significado, e foi então que tentei procurar alguém que preenchesse as minhas ambições e expectativas. E foi então que me dirigi a si, Sr. Jorge. Sei que tem a reputação de ser um excelente homem, muito providenciador, carinhoso e competente a vários níveis.
— Ah, mas muito obrigado — disse Jorge com uma ponta de cinismo. — Sabe, eu sou um homem de gostos simples. Gosto de determinadas competências, que não são muitas, mas têm de ser altas.
Jorge fez uma pausa intencional, rodando uma caneta nos dedos.
— Como é que estamos no capítulo dos bicos?
— Bicos? — disse Maria, para ganhar tempo.
— Sim, bicos. Broches, mamadas, felácios, chame-lhe o que quiser.
— Sim. Bem, posso garantir-lhe que sou bastante boa. Sempre mo disseram, e o Sr. Jorge sabe melhor que eu que os homens não costumam mentir neste aspecto.
— Ouça, se vir a ser minha mulher, eu posso vir a solicitar bicos a qualquer hora do dia, ou mesmo da noite. Tenho de ter a certeza de que a Maria terá a energia e disponibilidade necessária. Sempre com a mesma competência.
— Concerteza, Sr. Jorge. Sempre que tal me foi pedido, sempre cumpri o meu papel, e posso dizer-lhe que foi quase sempre com gosto. É uma coisa que também me dá prazer, é saber que estou a dar prazer ao meu homem.
— Compreendo. Gosta de foder, portanto.
— Sim senhor. Gosto bastante.
— Ok. E outras competências? Cozinhar, tratar da casa, organização doméstica, etc.
— Sim senhor. Gosto de cozinhar, mas sou mediana. Faço sim sobremesas excelentes. Recebo muito bem os convidados, conheço toda etiqueta em vigor. Limpo o pó e lavo os pratos, lavo casas de banho mas lido mal com sanitas porcas. Lavo e seco a roupa com eficiência, mas não passo a ferro. Julgo que está aí no currículo... — disse Maria inclinando-se significativamente para a frente, tentando apontar com o dedo.
— Maria, mostre-me as mamas por favor.
— As mamas? Pois concerteza.
Acto contínuo, Maria soltou o soutien com destreza e levantou a justa camisola. Jorge não foi capaz, no primeiro instante, de esconder o seu agrado. Eram mamas generosas, de contorno e textura perfeitos, dois pequenos bicos cor de rosa.
— Olhe que a Maria tem as mamas uma diferente da outra.
— Desculpe? — disse Maria numa quase indignação incrédula.
— Estava a brincar consigo. Queria ver a sua reacção. Não há nada de errado com as suas mamas, são mesmo do melhor que já vi.
— Obrigado — disse Maria, vestindo-se e não dando grande importância ao elogio. Maria sabia que se tinha alguma coisa que podia alterar o equilíbro de qualquer negociação, era o seu belíssimo par de tetos.
— Sim senhora. E diga-me, Maria, que pensa sobre o sexo anal?
Depois de uma breve pausa, Maria diz num suspiro:
— Devo confessar que não sou grande fã. Apenas mo pediram um par de vezes, e doeu-me bastante. Mas pelo que eu percebi, grande parte dos homens aprecia que a mulher tenha dores. Por isso, é algo em que posso perfeitamente colaborar e evoluir.
Durante uns breves segundos, Jorge manteve-se em silêncio a olhar para Maria.
— Ok Maria. Isto é o que lhe posso oferecer. Já viu a minha casa, a piscina, o court de ténis, os meus carros. Já viu que tenho bastantes posses. Trabalho para isso. Pretendo uma mulher o mais simples possível. Que cozinhe o mínimo, ou pelo menos que saiba dar ordens a uma empregada, que é algo de que posso tratar. Principalmente, o que eu pretendo de uma mulher é que não me chateie os cornos. Com o tempo, posso ser algo flexível, dentro de limites. Agora, não quero chatices com trazer amigos a casa, chegar tarde do trabalho, querer passar os fins de semana de pijama a ver televisão.
Pausa.
— Vai reparar que sou um marido exigente, mas também compreensivo e dedicado. Não vou tolerar a casa feita numa esterqueira, as “dores de cabeça”, desleixo com o corpo e aparência, merdas pré-menstruais nem nada disso. Se quiser ter um futuro como minha mulher, livre-se de me chatear a cabeça com coisas inúteis.
Maria mantinha-se calada, pensativa. Mais um silêncio expressivo.
— Cara Maria, gostei de a conhecer. Parece-me adequada para ser minha mulher. Pode esperar por uma resposta, positiva ou negativa, até ao fim de semana.
Era quarta-feira.
Maria levantou-se com um sorriso, cumprimentou Jorge silenciosamente e saiu.
Jorge, sozinho na sala, sentou-se e acendeu um charuto. De novo a sua maléfica triagem: não iria dizer nada a Maria até Sexta. Se Maria telefonasse, indignada, na Segunda, significava que estaria interessada. Se não, significava outra coisa qualquer.

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