3 de novembro de 2009

Load aspas aspas


Hoje é um dia em que me sinto particularmente feliz.
Feliz porque tive uma experiência terra a terra, daquelas em que uma pessoa consegue como que afastar-se de si próprio e olhar a sua vida em perspectiva. O que é a felicidade, hoje em dia? Em que é que penso para me sentir feliz, ou infeliz? Dinheiro, amor, beleza, sexo, a saúde, o trabalho, copos, os amigos? O que é que tenho e o que é que me falta? E porque é que é tanta coisa, tantas variáveis, como seu eu fosse uma marioneta e todos estes factores fossem os fios que me puxam? Bastando uns poucos misturarem-se para a marioneta não se mexer mais... Porque é que é tudo tão complicado?
Daí que tive uma epifania. 
Dos bons velhos tempos em que tudo era mais simples.



Descarreguei uns poucos de uns jogos para o meu computador. Fui buscando jogos antigos, e com cada momento que passava a minha memória eram activadas, ou mesmo assoladas, com recordações de tempos felizes. Cheiros, padrões, cores da minha infância.



Na altura, felicidade era isto. Só isto. Meter uma moedinha, e desatar a distribuir socos por maus e dinossauros.



Não havia nada para me chatear, nem sequer os trabalhos de casa. Tardes e tardes passadas em frente a um monitor, ou depois numa máquina de arcada, a andar de fórmula um, dar tiros em naves e/ou bandidos, evitar buracos e rochas e os tiros dos maus.

O que é que faltava para se ser feliz? Sexo eu não sabia o que era, sabia que era sujo. Álcool? Tão-pouco... Na altura era Trinaranjus e Caprisone. Dinheiro? Só para pôr a moedinha ou para comprar os chupas: os valores envolvidos eram negligenciáveis. Os amigos... os amigos apareciam às vezes, mas mesmo que não aparecessem eu andaria aos tiros aos cowboys sozinho a tarde toda.



A felicidade era só isso. As memórias a médio prazo, aquelas com 10 ou 15 anos, revelam-se quase sempre uma frustração quando reavivadas. Os Macgyvers, os Robocops, o Sega Rally. Quase sempre nos dão um amargo sabor a nostalgia, pensando nós “como era possível eu ter gostado, e mesmo amado isto?”

Agora aquelas memórias antigas, temperadas pela pátina dos tempos, quando não éramos sequer pessoas completas... Essas deixam-nos num frémito quando as revisitamos, saboreamos todos os segundinhos com medo que acabe.
Encontrei o Commando!!



Lembro-me de, com 9 ou 10 anos, viciado no meu ZX Zpectrum 48K (que na verdade era um Timex) ter passado uma tarde inteira a desmontar o meu leitor de cassetes, pois ele começou a desbobinar a fita do Commando, o meu jogo favorito, entranhado e entalando a fita toda dentro das suas tripas. Passado uma tarde, consegui, e o jogo continuou a funcionar.

E na feira, uns anos mais tarde, o bolso cheio de moedinhas, eu com cólicas das farturas e das gomas, a gastar níquel atrás de níquel na máquina da Mille Miglia, no meio de um remoinho de néons, ciganos, fumo a cigarro, o cheiro inqualificável das casas de banho.



E recuando outra vez, na minha primeira década, onde havia um salão de jogos em frente a minha casa chamado Solar (agora é um loja chinesa) que tinha o Moon Patrol! 20 escudos custava um jogo.



Por sinal, a primeira máquina a incluir o mal-amado “continue”, permitindo ao jogador continuar a gastar dinheiro aon invés de fazer o seu melhor com apenas um crédito.
Permissa simples: Um carro na lua, manda tiros para a frente e para cima ao mesmo tempo. Tenho de matar os discos voadores e saltar os buracos.

Era tão bom... e tão simples que assim fosse sempre! Mas hoje não, os miúdos estão demasiado ocupados para se divertirem com jogos de vídeo. Hoje já não gostam de passar tardes em frente aos monitores, estimulando a imaginação, salvando princesas, matando extra-terrestres, comendo bolinhas e fantasmas. Hoje preferem o pião, andar pela rua à toa, jogar à bola e namorar. Já não melhoram a resposta mão-olho, querem lá saber de computadores e jogos de vídeo. Para eles a diversão é outra; é trepar às árvores e fazer corridas de rolamentos. Não admira que a juventude ande mais apática.

Eu, por mim, ando feliz de repente. Tenho aqui os jogos da minha infância. Nem tenho de esperar 4 minutos que carreguem, nem de gastar níquel, nem de mais nada. Jogo quando quero, tenho na mesma os beijinhos da mãe e uma sandes de fiambre, ando gordo, corado e com inícios de epilepsia. Melhor que isto só mesmo ter aqui um expositor de gomas da Hussel.


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