15 de abril de 2009

A Arte da Borra, parte I

“Algumas merdas devem ser levadas a sério.”
Coprófanes, séc. II A.C.

Vou iniciar agora um breve série sobre o fenómeno da defecação. Porquê, uma vez que toda a gente caga, não sendo uma actividade exclusiva minha? Por duas razões:

1 - Porque posso.
2 - Porque me apetece.

Vou então iniciar com a descrição da cagada utópica, depois a cagada distópica, depois uma dissertação sobre a física envolvida.


A cagada perfeita:

Há duas versões, consoante o local da descarga, e ambas podem produzir um belo efeito. Trata-se da cagada no local de trabalho e da cagada em casa. Vou debruçar-me na primeira, mais incomum, uma vez que há muitas pessoas a quem cagar no local de trabalho causa alguma repugnância, e outras há que se recusam terminantemente a cagar fora de casa, ao ponto da quase obstipação.
Cagar no local de trabalho é, para mim, uma maravilha, às vezes uma obrigação, quase sempre uma tradição. E se for bem feito pode tornar-se na melhor altura do dia.

A cagada perfeita (versão laboral), consiste, então, no seguinte.
Na véspera houve um bom jantar. Algo como uma francesinha, qualquer coisa pesada. A francesinha costuma proporcionar uma excelente cagada, com uma ponta mesmo de nostalgia. Depois, um cinema ou um qualquer programa calmo. É nessa altura que as tripas dão sinal: “Olá! Já se cagava!”. Mas não. Vai-se para casa e, coisa estranha que acontece por vezes, esquece-se de cagar. Nada de grave, nada de pressas, a vontade não é muita. No dia seguinte, depois de comer os cereais, vem de novo a tal vontade premente. Mas agora sim, há alguma pressa, e não dá para cagar antes de sair de casa para o trabalho. De novo, nada de grave, ninguém está à rasca. A cagada perfeita, seja ela onde for, nunca, ou quase nunca, deve ser feita à rasca. Vou cagar quando quero, quero ser eu a escolher o sítio, existe a vontade mas sabendo que ainda é possível aguentar uma tarde inteira se for preciso. Lembrai-vos (lei primeira): sois vós que mandai no cu e não o cu que mandai em vós.
Para quem quer, um cafezinho e/ou um cigarrinho, para alguns é preliminar, para outros é catalisador.
Assim sendo, sem estar à rasca, mas sabendo de antemão que se vai cagar a meio da manhã, começa-se a fazer a prospecção do local. Para quem trabalha num sítio grande, há várias casas de banho e vários andares. Pessoalmente gosto dos WCs da chefia: o aroma do proibido, a metáfora óbvia; e normalmente são mais pequenas e sossegadas.
Idealmente então, quando estou a chegar, está a circunspecta empregada de limpeza sul-americana a sair. O aroma asséptico dos líquidos de limpeza para mim é altamente edificante. Entro no cubículo, e, milagre, a empregada esqueceu-se de meter “A Bola” no lixo. E está sozinha no chão a olhar para mim, a edição de hoje. Talvez o chefe tenha dado ordens nesse sentido. Tudo limpo, cinco rolos de papel higiénico, de boa marca e textura, empilhados no autoclismo.

E começamos então. Como sempre, arranco umas poucas folhas de papel higiénico e atiro para o fundo da sanita, para prevenir o Efeito Schpluck: quando o cagalhão é grande e denso (ou por outras palavras, “bom”), ao cair directamente na água, projecta-a directamente para cima. E molha o cu e/ou os tomates. Há várias escolas, nomeadamente a Japonesa, para quem esse fenómeno é sinal de sorte. Para outros, como eu, é sinal de olho do cu molhado e eu não gosto. Mais tarde aprofundarei esse assunto.
Ora, caminha de papel no fundo, calças arriadas, vamos ao que interessa. Depois de passar a noite com uma francesinha decomposta no cólon, notar-se-á alguma resistência em largar o cagalhão. Logo aí dá para ver que tipo de merda estaremos à espera: idealmente, sente-se nas entranhas um leve movimento, de resistência, de algo largo que está para vir, mas mesmo sem a manobra de Valsalva o seu trajecto pelo cego é inexorável: vem aí um cagalhão, deixai-o vir, não faz mal a ninguém. Mas é grande.
Uma ligeira aceleração ao atingir a ampola rectal. NUNCA, nesta altura, se deve fechar o olho do cu, por pior que seja a emergência. Pior que isso, só mesmo apertar o esfíncter a meio da viagem do tarolo, truncando-o a meio e cagando as bordas do cu.
Uma pequena adenda para discutir o cagalhão ideal, que será o mesmo seja qual for a circunstância: Este será espesso, fusiforme, grosso, de textura minimamente maleável, superfície ligeiramente oleosa mas com alguns grumos. A zona distal é ligeiramente dura (devido à maior absorção de água nessa zona do cagalhão), o que dá jeito para abrir caminho, como um breve “olá!”, mas também para coçar o olho do cu.



Discutivelmente, o cagalhão número 3. A tender para o 2, naquelas tardes ociosas de Domingo com uma Nova Gente à mão.

Estamos então na casa de banho do chefe, tudo está calmo, ninguém lá vai. Assim, o peido é não só perdoável, como mesmo recomendável e agradável (mais tarde abordarei esse assunto). Peido antes e peido depois, não durante. Ideal é aquele peido gasto e velho depois de sair o cagalhão (que só sai um, mas com mais de meio quilo). Quase nem cheiro tem, extingue-se devagarinho, o olho do cu fecha com calma. O cagalhão despede-se com toda a glória, e banda sonora a acompanhar.

A boa cagada distingue-se das demais pela sua conclusão sem ambiguidades. Sabe-se quando começa e quando acaba sem hesitações. O fim da cagada é óbvio, sente-se um vazio agradável na barriga, não se fica na sanita a pensar “será que já foi tudo”. Na cagada perfeita, o que se cagou até parece demais. Olha-se para o presente no fundo e indagamo-nos como é possível aquilo ter vindo de dentro de nós. Nessa cagada perfeita, o fim do cagalhão é assimptótico, em forma de gota de água ou fio de prumo, e idealmente o olho do cu fica tão limpo que a passagem do papel higiénico não passa de uma formalidade.

As sequelas: Também as consequências do cagalhão perfeito são alvo de controvérsia: há quem goste, em concomitância com o cagalhão produzido, de puxar o autoclismo e ouvir-se algum estardalhaço. O nível da água subir, o cagalhão rodopiar e ser seguidamente sugado com estrépito para o sifão, a água desaparece num som gutural como se as próprias entranhas da Terra estivessem a engolir o tarolo.
A outros agrada entalar o cagalhão na curva, como um semi-trailer numa rua apertada, onde só a varinha mágica poderia resolver a situação. Para alguns, a glória existe quando parecer que um Dachshund bebé morreu a tentar fugir pela sanita. Consoante o local, cada cu sua sentença. E uma vez que nos encontramos na casa de banho do chefe, deixar um poio de meio palmo no fundo da retrete, como um periscópio traquinas, não é um panorama mau de todo. Puxando o autoclismo umas três vezes (com um sorriso orgulhoso nos lábios), para não pesar na consciência.

E finalmente retiramo-nos. Ninguém nos viu. Tão depressa não voltaremos ao local do crime, e prevemos que a empregada sul americana deitará as mãos à cabeça e olhará para o chefe com outros olhos.

Voltamos à secretária. Suspiramos, temos uma agradável sensação de vazio. E, se a cagada foi mesmo perfeita, ficaremos logo com fome, e preparados para perpetuar o glorioso ciclo do cocó.

1 comentário:

Anónimo disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH, muito bom. CAGUEI a rir xDDDD

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