Sei como foram os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial pelos filmes e documentários, mas nunca soube o que seria lá estar... Mas fiquei com a ideia mais próxima que poderia: Miúdos de 4 anos até velhos a atirar bombas para o chão, para os edifícios. Desde estalinhos até obuses. Tudo explodia à minha volta, coisas ardiam por todo o lado.
Os edifícios menos afortunados explodiam.
Por todo o lado cheirava a enxofre e a álcool. Andávamos de um lado para o outro a ver a revolta, a ver a destruição dos ícones com expressão de animado terror. Na mesma cidade, encontrávamo-nos nós, com acesso a álcool e a bombas... parecia um menino de 10 anos.
Raios feéricos atravessavam os céus.
Como uma demoníaca metáfora, aos poucos fomos levados a acreditar que tudo o que é bonito acabaria por perecer. Tudo é fútil nesta vida, tudo é efémero, e a entropia do Universo tende realmente a aumentar.
Isto
Transformou-se nisto.
O alvorecer da humanidade. O fogo, a luz e as bombas. Bombas por todo o lado. Dei por mim a fugir de uma beata de um cigarro que fumegava no chão, atirado por um velhote. Depois o velhote atirou-me uma bomba aos pés.
Não se distinguiam as pessoas que participavam na festa das que vinham apenas assistir, porque todos tinham bombas.
Para o ano vou voltar, e desta vez vou comprar mais bombas. Comprei 6 rompe-vigas, 50 super-diablos e 50 carpinteiros. O rompe-vigas é um pouco demais: está algures a meio caminho entre uma granada de mão e uma ogiva termonuclear.
Em termos de comparação, um super-diablo é cerca de um terço do tamanho do rompe-vigas e, aceso dentro de uma garrafa de vidro, torna-se uma mina Claymore.
Os carpinteiros, pequenos mas audazes, foram os primeiros a serem sacrificados. Não obstante, o seu rebentamento dá pena de prisão em qualquer lado que não nas Fallas Valencianas. O seu pavio curto e corpo roliço, depois de umas poucas cervejas, deixa-nos com a tantalizante ilusão de que se pode rebentar na mão sem perder dedos.
Erro!
Tínhamos uma demanda por encontrar o maior explosivo de que há memória, de seu nome Megatron. Custava 10 euros, e sabíamos que havia uma loja que o tinha. Constou-nos que tinha plutónio, um bocadinho menos que a massa crítica para não destruir a cidade. E que o ar em volta se trasformava em plasma.
No fim, acabou por se tratar de uma lição de vida que todos aprendemos. Tudo está destinado a morrer em chamas.
A nossa roupa cheirava a pólvora, tínhamos a boca seca. Os fogos ainda queimavam na retina. Passeámos sem rumo pelos destroços da cidade, e ao longe ainda se ouviam explosões e os seus ecos a reverberar pelas ruas. Estávamos sujos e satisfeitos: o meu cabelo tinha cinza das explosões, ou de pessoas que pereceram. A nossa provisão de bombas estava a acabar, e a orgia de fogo, luzes e bombas tinha tirado os seus dividendos. Cansados mas felizes, tínhamos de ir desintoxicar os sentidos.
Haveria aqui uma metáfora envolvida? Que depois da tempestade viria finalmente a bonança? Fiquei convencido que sim, depois de fazer um pequeno buraco na areia e lá colocar o nosso último rompe-vigas. Acendemos o rastilho, afastámo-nos... e nada. Apenas as gaivotas se ouviam.
Depois viemos embora.
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